Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A campainha.

Quando soaram a campainha, Isabel estava escovando os dentes. Mesmo assim, foi correndo olhar no olho-mágico pra ver quem era. Seu rosto se comprimiu quando descobriu quem era. Isabel voltou ao banheiro pra terminar de escovar os dentes.
Quando soaram de novo a campainha, Isabel estava passando tônico facial. Ela não correu ao olho-mágico, pois já sabia quem era. Começou a passar o hidratante.
Quando a campainha soou pela terceira vez, Isabel estava passando o hidratante no nariz. Talvez fosse melhor atender logo a porta.

Não havia motivos para Isabel não ter atendido logo. Há meses atrás, abriria a porta antes mesmo que a campainha fosse acionada. Porém, os comentários idiotas depois de assistirem cada filme, o gosto por suco de tangerina, a piada que era sempre repetida, o fato de ele não usar meias, o cabelo repartido ao meio e o apelido de “Potoquinha”, foi minando toda aquele interesse que ela tinha.
Mas como, afinal, ele era um amor de pessoa com ela, tratando-a como há muito nenhum homem havia lhe tratado, Isabel ia levando aquela relação. Mas sem frio na barriga, sem vontade de estar o mais linda possível, sem paciência, sem humor. Aquilo não tinha mais graça nenhuma!
Mas e se terminasse com ele e depois se arrependesse? Não pela saudade ou porque ela possivelmente descobriria que gostava mesmo dele, isso ela sabia que não iria acontecer. Mas ela temia se arrepender de largar um cara que era cavalheiro, carinhoso e atencioso e acabasse com outro cara cafajeste que a mal-tratasse. Infelizmente, mesmo com os comentários idiotas, mesmo com o suco de tangerina, com o cabelo repartido ao meio e sem as meias, homens gentis e atenciosos, como seu namorado, estavam em falta no mercado.

Isabel tinha que escolher entre uma relação morna que não lhe dizia mais respeito e voltar a solterice e se expor, de novo, a ser maltratada por homens interessantíssimos mas que não queriam compromisso.
Sem correr, mas também não tão lentamente, Isabel se dirigiu a porta. Ainda ouviu a campainha outra vez e quando estava pra girar a maçaneta, ouviu ele gritar lá fora:
- Abra, Potoquinha! Eu sei que você está aí!
Uma onda fria passou pela espinha, a mão de Isabel congelou no ar. Respirou fundo e foi para o quarto. Ainda ouviu a campainha outra vez antes de colocar os fones do disc-man. Nunca havia ouvido Bethânia cantar tão alto:
“Negue seu amor, o seu carinho
Diga que você já me esqueceu
Pise, machucando com jeitinho
Este coração que ainda é seu”...

P.S. A música citada é “Negue”, de Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos.

9 comentários:

Anônimo disse...

"era uma vez o amor, ai eu matei ele e fim"... ótimo!

www.wanna-a-drink.zip.net

blog disse...

Típico das mulheres, que são o tempero de tudo o que existe: a incerteza, a dúvida entre ser/fazer.
Gosto disso porque, dessa forma, elas são mais humanas.
Bom, menina.

Ramon Assis disse...

Mulheres, cada vez que leio seus pensamentos fico cada vez com medo de tê-las nos meus braços, mas como instinto humando ñ resisto as suas tentações.




http://lishadcir.blogspot.com/

Anônimo disse...

Muito bom o post, mas enquanto as mulheres tem certeza que nem elas mesmo sabem o que realmente pensam e querem pra si.

bjs...

http://teckaqui.blogspot.com/

Anne disse...

"Potoquinha"??? Ninguém merece! Se eu fosse ela não abria a porta nunca mais, nem olhava mais no espelho! Aff... rsrsrsrsrsr

Thaty disse...

Vixi Maria me vi no texto... snif

Silêncio de Chumbo disse...

a incerteza... sempre ela... hehe

otimo conto!

bjoo

young vapire luke lestat disse...

Mulheres sempre acomodadas e cruéis.
Nunca vou entende-las, mas também nunca conseguirei viver sem elas.
A vida do homem é um dilema eterno.
Odeio vocês e as amo, desesperadamente.........

[]s L.Sakssida

Anônimo disse...

Vanessa Lee, q profundo, qta percepção da alma feminina, nem as proprias entendem... Coitados dos homens qd uma mulher nao tem certeza e como eles serao felizes qd um amor d mulher os encantar. Adoro vc nega!
Bjao na bunda :)