Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Gisele

Essa história foi escrita junto com minha quarida amiga Anne Rodrigues ( http://www.oquevejopelomundo.blogspot.com/), de Macéio, que conheci através de duas paixões: Los Hermanos e Orkut. Além disso, ela como eu é ariana e professora. Eu não a conheço pessoalmente, mas é como se fosse minha vizinha!
Bem, ela há menos de uma semana propôs de cada um iniciar um conto pra que a outra terminasse. Um desafio e tanto que eu aceitei! Essa é a primeira história, sendo que foi iniciada por mim (verde) e terminada por ela(azul).
O shopping já estava movimentado, apesar de só ter aberto há menos de uma hora. Pessoas iam e vinham, algumas com pressa, outras lentamente observando vitrines e pessoas. Entre as pessoas havia adolescentes fardados, homens engravatados, garotas de short, camiseta e chinelo com as alças do biquíni aparecendo em volta do pescoço. Nas mesas da área de alimentação, havia pessoas lanchando, quartetos jogando baralho, grupinhos de garotas fofocando sobre o novo garoto que havia se matriculado no colégio no meio do ano...
Mas nada disso importava a Gisele. Havia escolhido uma mesa no inicio da área de alimentação, pra que fosse logo vista, mas se sentou de costas pra que fosse vista antes de vê-lo.
Gisele olhou mais uma vez o relógio. 9:34. Quatro minutos atrasado.Mas o que são quatro minutos perto de toda uma vida? Consertou o corpo na cadeira, tentando parar de balançar as pernas. Felizmente havia tido a boa idéia de trazer um livro pra ao menos fingir que não estava ansiosa. E suas mãos que não paravam de suar?
E se ele não viesse? Só pensar nisso, seu coração gelou. Não, não é possível! Ele irá vim! Ele tem que vim!
Sentiu-se como se novamente tivesse quatro anos e estivesse na porta da escola esperando a sua chegada. Quando aquele Fiat 147 azul chegava, que alegria se apoderava de seu coração! Mais um dia não havia sido abandonada! Porém, um dia o dono daquele Fiat 147 deixou de ir ao seu encontro.
Outra olhada no relógio. 9:42. Não é possível! Não é possível! Gisele mal podia crer. Sentia em sua testa uma placa de idiota. Seus olhos ficaram rasos de lágrimas. Era um misto de tristeza, raiva e vergonha que sentia. Porém lutou pra que essas lágrimas não se derrapassem pelo seu rosto. Respirou fundo.
Olhou a sua roupa. Havia acordado bem mais cedo que o habitual depois de uma noite na qual ficou revirando pela cama. Levou mais que meia hora escolhendo uma roupa que pudesse deixá-la com ar de bem sucedida - casual. Queria aparentar que sua vida era muito boa, mesmo sem ele. E que não havia se arrumado especialmente pra aquela ocasião.
Aquele telefonema há dois dias, depois de quatro anos a havia surpreendido. Nada poderia prepará-la pra isso, pra ouvir de novo aquela voz pedindo pra se encontrar com ela. A última vez que ele havia procurado por ela, foi no dia dos pais, depois de sete meses sem contato. Ela estava tão magoada com o sumiço dele quando avisaram que era ele no telefone querendo falar com ela, que falou alto, pra que ele ouvisse do outro lado da linha: “Ele lembrou que tem filha justo no dia dos pais? Pois hoje sou eu quem não quer falar com ele!”
Olhou no relógio. 10:05. Já estava se preparando pra se levantar e ir embora quando sentiu uma mão pousar em seu ombro direito. Naquele mesmo instante sentiu um frio na barriga, nas mãos, no corpo todo. Um calafrio percorreu seu ser. Aliás, o frio que sentiu nas mãos era culpa daquele maldito suor. Ela sofria de hiper-hidrose de fundo emocional desde a infância, mas o problema agravou-se depois que o pai foi embora. Ao sentir novamente aquele cheiro, aquelas mãos sempre geladas, não teve dúvidas: era ele. Mas estava paralisada e não conseguia olhar para trás.
O tempo havia parado – parecia.
“Gi”, foi o que ela ouviu. Mas ainda estava paralisada, num topor, não conseguia mover-se. Aquela voz! Ah, quantas saudades! O sabor dos doces da infância inundaram sua boa e Gisele chegou à salivar.
Saudades dos passeios ao entardecer, à beira-mar... o pai costumava presenteá-la com um saboroso sorvete de banana caramelada nessas ocasiões. Ambos levavam bronca ao chegar em casa: ela por estar com a roupa toda suja, ele por haver dado sorvete pra menina à noite, aquilo era uma absurdo.
Gisele abriu os olhos e finalmente tomou coragem de voltar-se para trás. Mas não disse nada. Não ainda. Os sentimentos permaneciam confusos. Não sabia se deveria abraça-lo e chorar, como nos reencontros dos programas de domingo à tarde, ou se devia dizer-lhe tudo o que sofreu por causa de sua ausência. Então decidiu: olhando nos seus olhos falou “senta aqui, pai”.
- Filha, eu...
- Deixa, pai... não fala nada... eu quero falar – disse Gisele com voz altiva, porém serena.
- Filha, eu estava ali, te observando... desculpe-me, não conseguia levantar... só me aproximei quando percebi que você estava indo embo...
- Pára, não fica tentando se justificar – interrompeu Gisele uma vez mais. Dessa vez foi ríspida, ao ponto de surpreendê-lo. Ela passou a observá-lo. Percebeu que ele havia envelhecido quatorze anos em quatro. Parecia mal, a barba por fazer e muito magro. Naquele instante, sentiu uma profunda compaixão, inexplicável. – Pai, passei os últimos anos de minha vida imaginando o que eu havia feito de errado - disse Gisele, já entre lágrimas -, sofri muito. Não entendia o porquê. Foi uma fase difícil. Mamãe sentia ódio de você. Sente ainda. Não parece ser por ter sido abandonada, é o que penso. Sabe pai, entendo que ela seja sua ex-mulher... mas eu não posso ser tratada como sua ex-filha...
Gisele chorava e chorava... Mauro abraçou-a. Também chorou. Ela então foi se sentindo mais calma, como no dia que ele a ensinava a andar de bicicleta – sem rodinhas – e ela caiu. Aquele abraço à protegia, resguardava-a de todo o mal.
- Filha, preciso te dizer. Bem, gostaria que você conhecesse alguém.Nesse momento um garotinho de cerca de cinco anos aproxima-se. Na verdade ele estava sentadinho na mesa ao lado o tempo todo, observando a cena, mas não aproximou-se. Gisele franziu a testa. Estranhamente aquele menino a fazia lembrar de si mesma quando tinha aquela idade. Pensamentos absurdos tomaram conta dela. Pela idade e semelhança com ela mesma esse menino só podia ser seu irmão – meio irmão, melhor dizendo. Ciúmes vicerais e infantis a dominavam, mas antes que ela reagisse, seu pai que desde muito tempo adivinhava seus pensamentos, atalhou:
- Sim, ele é seu irmão. Gisele, vou te contar o que aconteceu: conheci Floraci, Flora como era chamada no seu, digamos, trabalho há cerca de dez anos. Na época eu e sua mão não estávamos nada bem. Brigávamos todos os dias. Muitas vezes saia com você, ia passear na praia pra deixar o tempo passar e espairecer. Mas quando chegávamos em casa sua mãe ralhava por motivos absurdos. Até por eu ter te dado sorvete, imagina – falou isso com um sorriso triste. – Eu não pretendia que as coisas acontecessem assim. Nada foi planejado. Quando eu percebi, já havia me envolvido com a Flora. A princípio o relacionamento era... bem era profissional, entende? Mas depois acabamos nos envolvendo e já não tomávamos os cuidados necessários.
Gisele sentia-se mal com aquela conversa, queria que tudo acabasse logo. Na verdade sentia nojo do que ouvia. Mas escutava, ainda que impaciente.
- Bem, num desses descuidos Flora acabou engravidando. Como eu poderia contar isso pra sua mãe? Resolvi ficar calado, pra ver como as coisas andariam. Dei dinheiro para que Flora “fizesse o que fosse necessário para resolver nosso problema”. Foi isso que falei pra ela naquele momento. Ela, porém, surpreendentemente, não fez o que eu esperava. Pelo contrário, procurou um médico e começou a fazer o pré-natal. Num dos exames ela descobriu... bem ela descobriu que, além de grávida era soropositiva. Fiz o exame e descobri que eu também era – falou ele apertando forte as mãos da filha e prendendo a respiração.
- Gisele, vou te pedir uma coisa. Por favor, não diga não. Nessa pasta tem alguns documentos e informações importantes. Eu tenho pouco tempo de vida, preciso de alguém em quem confio e que me ame pra fazer algo. Cuide pra mim do Mauro. Na pasta tem todas as informações médicas dele, exames, hospitais onde ele é acompanhado. Não o abandone. Não faça com ele o que fiz com você. E não esqueça que amo a vocês dois.
Dizendo isso, deu beijo em ambos. E deu as costas. Foi embora, perdendo-se na multidão do shopping naquele dia dos pais inesquecível.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Uma carta.

Querido Rodolfo,

Nem sei se ainda poderia te chamar de “querido”, mas é um pouco a força do hábito e um tanto da minha vontade que você continue á ser o meu querido. Perdoe-me se te chamar assim não for adequado pra a nossa atual situação e receba a promessa que esta será a última vez.
Recebi seu buquê de rosas vermelhas ontem. Lindas! Você acertou como sempre! Pena que tive que atirar pela janela, junto com aquele vaso belíssimo que sua mãe me trouxe de Nazaré das Farinhas. Óbvio que Dona Carmem já veio reclamar que eu poderia ter acertado um de seus filhos e já recebi a multa pelas mãos constrangidas do zelador, correspondente a 50% do valor do condomínio.
Mas mesmo assim não me arrependo. Pior seria ter que encarar o teu prêmio de consolo por não mais te ter aqui em casa. Ou talvez tenha sido o agradecimento por não ter quebrado a sua cara e todo o restaurante. Percebi que buquês de flores são mortes anunciadas, pois uma fez colhida, por mais cuidados que tenhamos, seu destino é muchar e morrer publicamente. E foi um pouco isso que você fez com meus sentimentos. Eu sei que o que sinto por você pode demorar, mas um dia muchará e irá morrer, mesmo que leve um pouco de mim neste processo.
Sabe o que mais me doeu? O cartãozinho que acompanha as flores estava em branco. Você nem se deu ao trabalho de assinar, seu calhorda! Só soube que você havia enviado porque foi o rapaz da floricultura veio dizendo: “Buquê do Doutor Rodolfo!”. Coitado! Certamente acreditava que se tratava de uma ocasião feliz, como tantas que houve.
Não sei se te faltou criatividade ou se foi calhordisse mesmo: usar o símbolo de tantos momentos especiais, que afinal vivemos pra uma situação tão fúnebre que é a morte de nosso relacionamento.
Vejo que então aquele buquê cumpriu a função de uma coroa de flores no enterro de minha alegria.
Eu devia senti raiva de você! Na verdade o buquê foi nada perto de você ter me levado pra meu restaurante favorito pra comunicar que iria sair de casa pra viver outra mulher, alegando que ela havia engravidado. Eu me arrumei com tanto capricho pra ir com você! Tão iludida! Nunca mais poderei pisar naquele lugar de novo.
Eu poderia te ligar, poderia mandar um e-mail, mas preferi escrever essa carta pra manda-la com seu vinho favorito. Espero que tenha acertado na safra!
E não se preocupe com o valor desse vinho. Deguste bem devagar, explorando com os 5 sentidos como tantas vezes você quis me ensinar. De preferência, pra não estragar seu dia, não consulte seu saldo bancário nem tente usar seu cartão de débito, pois isso pode lhe dar algum desgosto!
Você que sempre deve ter me achado tola, nunca devia ter deixado anotado naquela sua agenda que você guardava aqui em casa, as suas senhas.
Mas isso é outra história!
Um brinde aos tolos que nós dois somos!

Um beijo,
Eleonora

sábado, 13 de janeiro de 2007

Deixa.


É tão engraçado: Pisquei os olhos e mais um ano se passou! Enquanto esquentava a cadeira planejando meu glorioso futuro, ouvia a risada das crianças que brincavam lá fora. Quando quis sair, já era noite, a rua estava vazia. Deixa pra amanhã, pensei. O amanhã se transformou em hoje, mas estava tão cansada de pensar que voltei pra cama. Só mais dez minutinhos de sono. Outros vinte. Porque não mais uma hora? Foi-se a manhã. É melhor esperar o sol baixar. Deixa ficar mais fresco. Anoiteceu e mais uma vez a rua está vazia.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Trecho de scrap

Oi, amiga!
(...)
Eu gostaria de viver sem expectativas, sem o sonho de que a felicidade é coisa real. A Recife de meus sonhos nunca poderia existir mesmo... simplesmente pq foi um sonho e eu acordei. Foi tão ruim assim? Não. Então, o que vc queria? Não sei, mas não era isso que foi. Mas a hora agora é de desfazer a mala, separar o limpo do sujo, fazer a minha comida, arrumar a casa. É hora de voltar ao conforto sufocante da rotina e do cheiro de minha casa.
Q bom!
Uma vez li um texto de Amyr Klink em que ele dizia os coqueiros de Parati e a sombra que eles faziam eram os mais bonitos do mundo. Mas ele precisou se afastar pra saber disso! Eu tive que ir à Pernambuco pra amar a Bahia.
(...)
Beijos de uma soteropolitana orgulhosa de ser assim.