Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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terça-feira, 31 de julho de 2007

Qual a contribuição das mídias para a auto-aceitação de crianças negras?

Crianças negras - Obra de Emmanuel Zamor
O artigo à seguir foi escrito para cumprir tarefa na Especialização que fazia ano passado. Apesar de fazer referência à novelas que não estão mais sendo exibidas, o tema se mostra cada vez mais relevante.
Numa pesquisa superficial sobre o tema, encontrei os seguintes links: Arte do negro no Brasil, Ação afimartiva para crianças negras, A criança negra na televisão, entre outros...
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Qual a contribuição das mídias para a auto-aceitação de crianças negras?
Vanessa Lee
Salvador, 09 de Junho de 2006
Desde cedo, internalizamos modelos. Por exemplo, como é uma criança bonita? Quase sempre corresponde a um padrão no quais as crianças reais que nos cercam não se encaixam, pois os modelos que usualmente são desejados e admirados são os mais parecidos possíveis ao padrão euro-estadunidense. Aprende-se á idealizar algumas características que se aproximam do modelo euro-estadunidense de ser, agir e se vestir por meio dos livros, meios de comunicação, grande mídia, filmes, revistas e etc. (TRINDADE, 2002)
Entretanto, as crianças que nos cercam em nosso cotidiano, sobretudo em Salvador não correspondem á esse padrão, pois são em grande parte afro-descendentes. Ou seja, não possuem as características tão estimadas como os cabelos lisos, os narizes afilados e os olhos claros. Ao mesmo tempo, essas crianças além de não corresponderem ao modelo físico europeu, ainda são herdeiras da triste história de escravidão que os negros foram vítimas por mais de 300 anos, no Brasil. Apesar de a escravidão ter sido abolida há mais de 100 anos, os afro-descendente ainda sofrem com o preconceito racial.
Diante do exposto, cabe questionar: qual a contribuição da mídia para a auto-aceitação das crianças negras? Será que a mídia oferece imagem de negros no quais as crianças afro-descendentes sintam-se confortáveis em se reconhecerem?

Como o tema é muito amplo, nesse texto será enfocado em que modelos de negros são oferecidos em dois tipos de mídia que as crianças brasileiras, inclusive as negras, mais têm acesso: a televisão, sobretudo a telenovela e os livros infanto-juvenis.

A mídia mais acessível e consumida por boa parte da população, inclusive as crianças, são as emissoras televisivas. A televisão se tornou um eletrodoméstico quase que indispensável nos lares brasileiros. Os profissionais que trabalham nessa mídia “constroem diferentes retratos de nossa realidade social, com requintes de maquiagem técnica.” (OROFINO, 2003 p.110) A televisão não permite a leitura, a releitura e reflexão que os suportes textuais (jornais, revistas, etc.) permitem sobre o lido. Sua dinâmica exige que as imagens sejam absorvidas e respondidas simultaneamente, numa reação reflexa e rápida. “(...) absorvemos realidades do mesmo modo como esponjas secas sugam qualquer líquido ao se alcance.” (ARBEX, 1995 p. 13)

A presença de negros na televisão é muito importante para a construção da imagem dos negros de si mesmo. Os telejornais ainda trazem em grande parte apresentadores e jornalistas brancos. A Rede Globo é a emissora que tem mais repórteres negros, mas o número não chega á dez (RIGHETTI, 2006). A telenovela é uma das principais atrações da TV, sendo acompanhada por meses por um público fiel.
Fonte de divertimento, lazer e informação. (...) Portanto, afeta o seu público na medida em que lhe dá entretenimento, mas também novas formas de encarar o mundo, os problemas, os assuntos do cotidiano. (PALLOTTINI, 2006).
E qual participação nas novelas estaria sendo destinada aos negros? Segundo Joel Zito Araújo, escritor e diretor cinematográfico, apenas recentemente houve um aumento na participação de afro-descendentes nas produções televisivas. Está emergindo no setor da publicidade e da telenovela a necessidade de se aumentar a presença de atores negros, aliando á estes uma imagem de beleza, numa representação mais positiva, tendo a preocupação de que estes não apenas apareçam em papéis estereotipados. (ARAÚJO, 2006.) Araújo ainda cita o exemplo da telenovela “Da Cor do Pecado” que trouxe como protagonista uma personagem negra, a Preta, interpretada por Taís Araújo. Apenas o fato da protagonista ser negra, segundo Joel Zito Araújo, teve um impacto simbólico importante, especialmente entre as crianças negras. Entretanto, a citada telenovela não trouxe um núcleo negro e sim a protagonista imersa num mundo branco, o que demonstra que os negros ainda estão sendo representados como seres exóticos no universo branco.

Entretanto, os estereótipos em relação aos negros ainda continuam á serem apresentados nas telenovelas. Atualmente, a Rede Globo de Televisão está exibindo às 18 h a telenovela “Sinhá Moça”, que está sendo alvo de inquérito civil na Bahia. Segundo informe da Assessoria de Comunicação Social do Ministério Público da Bahia, divulgado pelo site da referida Instituição, o inquérito foi instaurado pelo promotor de Justiça da Cidadania Almiro de Sena Soares Filho. Segundo o citado promotor, que também é titular da Promotoria de Combate ao Racismo, a veiculação de “Sinhá Moça” em um horário plenamente acessível ao público infantil e adolescente, apresenta cenas de humilhação física e moral de pessoas negras, sob um verniz de obra de cunho histórico.

Os negros estariam sendo inferiorizados ao serem retratados na telenovela como submissos á situação da escravidão ou que poucos se rebelavam através de ações pouco eficientes, o que se caracterizaria em deturpação da história. O inquérito visa verificar se a veiculação da telenovela atenta contra a dignidade humana da comunidade negra. (CARDOSO, 2006). Outra novela que pode se tornar alvo de inquérito é “Cobras e Lagartos” por também apresentar situações racistas, segundo o promotor. A existência de tal inquérito mostra que a comunidade afro-descendente não está mais disposta á ter a imagem de seus antepassados unicamente associada á situações de rebaixamento humano, pois essa imagem também influência na auto-imagem das futuras gerações.

Outra mídia de grande acesso por crianças é a literatura infanto-juvenil, apesar de que em menos escala que a televisão. A competição entre livros infantis e a televisão é desigual, já que poucas pessoas sabem e gostam de ler. Porém, apesar de provavelmente a maioria das crianças não terem livros de histórias em casa, podem encontrá-los em outros espaços, como o escolar. Mas o que caracterizaria um livro como sendo infanto-juvenil?
Literatura infanto-juvenil, a literatura feita por pessoas adultas para crianças e jovens. É uma arte que povoa a imaginação, e por isso, tem o se espaço na formação da mente plástica do ser que a ela tem acesso. (ANDRADE, 2001 p. 113)
De acordo com Heloisa Pires Lima, bacharel em Psicologia pela PUC e Mestre em Antropologia Social pela USP, a literatura infanto-juvenil através de uma tríade (livros pequenos, leitores crianças e personagens adaptados para a infância), trabalha idéias, conceitos e emoções. (LIMA, 2001) É uma linguagem favorável ao desenvolvimento do conhecimento social e á construção de conceitos. Por meio do texto escrito e das ilustrações, imagens são transmitidas e visões de mundo são cristalizadas. Os enredos e personagens dessas histórias acabam sendo representações dos valores simbólicos da sociedade em que aquela obra foi criada.
A imagem age como instrumento de dominação real através de códigos embutidos em enredos racialistas, comumente extensões das representações das populações colonizadas. A representação popular do outro racial pela mídia também sugere uma investigação, como fantasias coletivas que ajudam na manutenção de identidades dominantes, construtoras de sentimentos que acabam por fundamentar as relações sociais reais. (Ib id, p. 96-97)
Herdamos muitos contos- de- fadas originários da Europa, sobretudo da região da Alemanha. Por isso, não é de espantar que as princesas dos contos- de- fada sejam brancas como a neve, por exemplo. Mesmo nas histórias criadas no Brasil, geralmente o padrão físico dos personagens segue o modelo euro-estadunidense, ou seja, de tez branca.

O que se verifica quando há personagens negros retratados nessas histórias, segundo Heloisa Lima, estes costumam aparecer numa gama limitada de estereótipos: como escravos e empregadas. O problema não estaria em ter personagens negros escravos, mas a forma como a situação de escravidão é retratada, naturalizando o sofrimento e a humilhação que todo um povo foi vítima, se constituindo numa violência simbólica. O mesmo se verifica quando há personagens de negras como empregadas domésticas, em que o problema não é a profissão, mas a imagem de mediocridade cognitiva e o comportamento nada altivo. Ainda segundo Heloisa Lima, não apenas no enredo, mas também nas ilustrações verifica-se que as personagens negras são retratadas com traços grotescos e feições idiotizadas. “O modelo repetido marca a população como perdedores e atrapalha uma ampliação dos papéis sociais pela proximidade com essa caracterização, que embrulha noções de atraso” (Ib id, p. 98).

Ao se deparar com esses modelos depreciativos, a criança negra rejeita se identificar com um povo que tem tal imagem de submissão e escravidão, desejando pertencer ao grupo visto como superior e dominador, no caso, dos brancos. Os livros infanto-juvenis, em sua maioria, ainda apresentam imagens pouco dignas para as crianças afro-descendentes se reconhecerem. Entre as crianças brancas é reforçado o conceito que as crianças negras são inferiores á elas, reforçando o preconceito e o racismo.

Em uma tentativa de modificar essa realidade, livros infantis com imagens positivas de personagens negros estão sendo lançados. Um exemplo é o livro “Luana, a menina que viu o Brasil neném” (MACEDO; FASTINO, 2004) que foi distribuído às Escolas da Rede Municipal de Educação de Salvador. O livro traz a primeira heroína negra, Luana, menina de 8 anos que vive numa comunidade remanescente de quilombo, que com seu berimbau mágico visita o cenário do descobrimento do Brasil. Já foram lançados o segundo livro com outra aventura da personagem e revistinhas em quadrinhos da personagem.

As mídias ainda não estão oferecendo bons modelos de negros para que as crianças se reconheçam como pertencente á grupo que de contribuições inestimáveis na formação do Brasil. Porém, se percebe tentativas de se modificar a imagem dos negros veiculada nas mídias de grande acesso pela população. Espera-se que cada vez mais surjam mais obras que atenda a demanda que os livros que estimulem a alteridade e a valorização também de outros grupos que não sejam dos brancos. Imagem “comprometida com nosso povo mestiço, belo, forte, que luta, que surpreende, que ri, que chora, que cria cotidianamente saberes e estratégias” (TRINDADE, 2002 p. 16).
Quanto aos educadores, cabe o papel de suprir a carência de imagens positivas de afro-descendentes, selecionando o material á ser utilizado dentro do espaço escolar. De acordo com a disponibilidade dentro das escolas onde atuam, podem-se usar as mídias positivamente através da leitura de livros com personagens negros que fujam do estereotipo do escravo/ empregada/marginal, como o citado livro “Luana, a menina que viu o Brasil neném”. Além disso, pode-se usar filmes, desenhos, fotografias que tenham imagens positivas de afro-descendentes, dando novos suportes para a auto-aceitação das crianças negras e respeito e admiração nas crianças não-negras.
Referências Bibliográficas

ANDRADE, Inaldete Pinheiro de. Construindo a auto-estima da criança negra. In: MUNANGA, Kabengele (org.) Superando o racismo na escola. 3º edição. Brasília; Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2001 p. 111-118.

ARAÚJO, Joel Zito. Como está a representação do negro nas telenovelas? Revista Eletrônica diverCIDADE. www.centrodametropole.org.br/divercidade/numero7 Acessado em 26/05/2006.

ARBEX, José. O poder da TV. São Paulo; Scipione,1995

CARDOSO, Maiama. ‘Sinhá Moça’ é alvo de inquérito civil na Bahia. www.mp.ba.gov.br/noticias/2006/mai_18_inquerito.asp, 18/05/2006.

LIMA, Heloísa Pires. Personagens Negros: Um breve perfil na literatura infanto-juvenil. In: MUNANGA, Kabengele (org.) Superando o racismo na escola. 3º edição. Brasília; Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2001 p. 95-110.

MACEDO, Aroldo; FAUSTINO, Oswaldo. Luana, a menina que viu o Brasil neném. São Paulo; FTD, 2004.

OROFINO, Maria Isabel. Mídia e educação: contribuições dos estudos da mídia e comunicação para uma pedagogia dos meios na escola. In: FLEURI, Reinaldo Matias (org.). Educação intercultural: mediações necessárias. Rio de Janeiro; DP&A, 2003 p. 109-124.

PALLOTTINI, Renata. Qual a influência da telenovela na sociedade brasileira? Revista Eletrônica diverCIDADE. www.centrodametropole.org.br/divercidade/numero7 Acessado em 26/05/2006
RIGHETTI, Sabine. Presença do negro na mídia é marcada pelo preconceito.
www.comciencia.com.br/reportagens /negros/08, Acessado em 26/05/2006.

TRINDADE, Azoilda Loretto. Olhando com o coração e sentindo com o corpo inteiro no cotidiano escolar. In: TRINDADE, Azoilda Loretto; SANTOS, Rafael dos (orgs.). Multiculturalismo – Mil e uma faces da Escola. 3º edição. Coleção: O sentido da Escola, Rio de Janeiro; DP&A, 2002 p. 7-16

terça-feira, 24 de julho de 2007

O apartamento 103

Uma manhã a Araci do 101 veio me reclamar que o primeiro andar tava com cheiro de alguma coisa podre, que eu devia zelar mais pela higiene. Vê se pode? Uma coisa que nunca descuidei com da limpeza do prédio! E eu disse isso a ela, que ela me respeitasse, afinal, eu não tinha mais idade para ser desleixada! Agora, dentro dos seus apartamentos cada um que tem que cuidar de sua faxina, não é mesmo?

Apois! Mas enquanto eu falava com ela eu senti mesmo um cheiro assim meio estranho que vinha pela escada. Como você deve saber, eu moro no térreo. Aí, eu perguntei pra a Araci se não era da casa dela aquele cheiro. Pra quê? Ela nem me respondeu! Saiu batendo o pé.

Eu tinha que averiguar essa situação, não é mesmo? Afinal eu era a síndica! Quem sabe alguém, coitado, nem percebia o cheiro de sua própria casa? Dizem que nosso nariz acostuma, sabe-se lá. Fui direto pro primeiro andar e logo vi que o cheiro era de carne podre. Imagina só! Resolvi bater de porta em porta pra avisar pra cuidar de seus alimentos, ou quem sabe, que levasse logo o lixo para a casa de lixo, né? Porque tem gente que fica só esperando o saco ficar cheio pra descer o lixo. Há gente pra tudo!

Bati de porta em porta pra perguntar se não tinha esquecido carne na pia, se não era hora de descer o lixo. Fazer o papel de síndica chata, isso sim! Mas era necessário, fazer o que? Teve gente que entendeu, mas outros acharam ruim principalmente quando eu perguntava sobre o lixo. Quando abriam a porta eu via que o cheiro não era dos apartamentos. Só em três apartamentos não atenderam: o 103, o 302 e o 304. Mas o cheiro não era no terceiro andar, não. Era lá no primeiro andar mesmo!

Eu mandei fazer uma limpeza pesada nos andares, pra ver se saia a caatinga. Porque, como me disse a Dona Clarisse do 201, o cheiro podia estar no chão, de alguém que desceu com o lixo vazando algum líquido que já havia secado, só ficando o murrinho. A Rose passou, passou, passou produto, detergente, água sanitária e nada! O cheiro continuou! Na verdade, até aumentou!

De noite, deixei minha porta aberta pra poder ver o pessoal do 103, 302 e 304 passar. Eu falei com pessoal do 302 e do 304, mas nada do Seu Jonas do 103 passar. Fiquei até as 22 hs com a porta aberta, só esperando e nada! E fiquei lá sentindo aquele cheiro de carne podre. Quando a novela acabou, resolvi ir lá e bater na porta, porque ele podia ter passado e eu não visto! Ninguém atendeu. Enquanto tava lá buzinando, a Araci do 101 abriu a porta e disse que já havia buzinado lá e nada. Também disse que há dias não via Seu Jonas.

Eu não sou muito observadora da vida alheia, que isso é coisa de gente fuxiqueira. Mas já havia percebido que a caixa de correio do 103 realmente estava cheia., tanto que era difícil colocar novas correspondências. E puxando pela memória, realmente eu também já não o via há uns bons dias. E quando percebi isso, eu me preocupei!

Seu Jonas do 103 vivia sozinho desde que a mulher fugiu com um rapazinho que morava no prédio em frente ao nosso. A mulher de Seu Jonas, Kátia era o nome dela, era muito bonita e ficava se oferecendo pros homens daqui. O coitado trabalhando e ela descia com uns micro-vestidos, um perfume muito saliente, com aquele falar miado, pedindo pros vizinhos irem a casa dela consertar o encanamento, trocar o gás, tudo na hora que o marido não tava! Não podia dar outra, não? A gente começou a ver a Kátia de muito lero com um vizinho do prédio em frente, muito jovem, sabe? Acho que até a família dele morava no interior e ele tava aqui pra fazer faculdade. Morava com uma tia. Um dia, cadê os dois? Fugiram juntos em pleno meio-dia de uma quinta-feira, deixando bilhetes aos respectivos marido e tia.

Nesse dia Seu Jonas chorou como um bezerro desmamado. Ele que sempre fora reservado chorou até altas horas no ombro de quem estivesse disposto à consola-lo. No dia seguinte, voltou a sua introspecção, pior até! Sempre aparecia muito capisbaixo e encurvado. Tava pra perceber que até emagrecia.

E cerca de dez meses depois do acontecimento aquele cheiro de carne podre vindo do apartamento de Seu Jonas. Não era pra me preocupar? Ele devia ser louco pela mulher! Mesmo porque uma mulher daquelas não pode inspirar amor e sim loucura nos homens que cruzam seu caminho...

Nós não falamos nada, mas dava pra perceber que a Araci tinha a mesma preocupação nos olhos. Mas preferir falar nada e afastar esse tipo de pensamento que tava tendo, porque poderia ser só carne mesmo... carne do tipo se que compra no açougue. Mas naquela noite rezei dois terços na intenção de Seu Jonas.

No dia seguinte, o prédio estava infestado de moscas. Cada moscão! E eu que sempre fui zelosa pela limpeza e higiene, quando via aqueles seres me arrepiava toda! E apareceu também baratas, um nojo! Continuei inutilmente batendo na porta, tendo que agüentar um odor já insuportável. Verifiquei que as janelas estavam fechadas. E ninguém tinha algum número de telefone pra entrar em contato com ele ou algum parente. Eu só sabia que ele era professor, mas não sabia de quê ou onde.
Eu falando, você não faz idéia do fedor que estava de carne podre! Dava náusea, mal comi. De noite vários condôminos foram à minha casa e conversamos sobre aquele problema e nossa desconfiança de qual fosse à razão daquele cheiro todo. E se Seu Jonas tivesse se suicidado em casa? Eu também já começava à desconfiar, mas quando o Fernando do 204 falou, me subiu um calafrio pela espinha. E realmente era possível! Como não? Ser corneado e traído assim tão publicamente... A pessoa não é capaz de cometer uma loucura?

Imagina a minha situação: podia haver cadáver no apartamento logo acima do meu, no 103 e as pessoas despejavam as histórias mais macabras que tinham conhecimento. Além disso, se isso fosse verdade, olha que publicidade ruim pro prédio! Ia ficar marcado como o local que um homem se matou, os apartamentos aqui poderiam se desvalorizar.

Eu percebia que as pessoas ali em meu apartamento esperavam que eu tomasse uma atitude, mas eu não sabia o que fazer! Mas realmente o que não podia era continuar aquele fedor terrível, que já infestava todo o prédio e aquela invasão de insetos nojentos. Dona Clarisse do 201 como sempre veio com mais uma coerente observação: a gente tinha que notificar a polícia. Se fosse realmente o corpo de nosso vizinho a gente não poderia deixar ele lá apodrecendo no apartamento, além disso, ia parecer que a gente tem culpa no cartório. Se não fosse, a gente tinha o direito de que o motivo do fedor fosse eliminado, pois já era um caso de saúde pública aquele fedor e os insetos que estavam sendo atraídos.

Convocamos rapidamente uma assembléia de condomínio urgente, indo chamar os vizinhos que já não estavam lá na minha casa. Nunca vi uma reunião tão cheia! Todos queriam uma solução. Inclusive, o casal do 104 estava já indo passar a noite na casa de parentes deles, já que o cheiro era muito forte e eles tinham uma filhinha asmática. Foi decidido que no dia seguinte seria feito uma B.O. na delegacia do bairro. E ainda bem que Seu Cláudio do 301 se predispôs à me acompanhar, já que realmente delegacia não é ambiente pra uma senhora respeitável como eu estar sozinha.

Confesso que mal dormir. Rezei muito pela alma do Seu Jonas, que encontrasse a paz e a luz necessária e que Deus lhe perdoasse a retirada da própria vida. Com certeza no apartamento a polícia acharia números de telefones para contactar os parentes sobre o ocorrido, que poderiam tomar as providências quanto ao corpo.

Na manhã seguinte fui levando a ata da assembléia. Graças à Deus, a delegacia estava calma e fomos atendidos por um policial simpático, Eu contei tudo, todo o motivo da desconfiança, como era a esposa de Seu Jonas, tudo que eu sabia. Mas só porque poderia ser útil aos policiais, pois não sou do tipo que faz fofoca! De lá dois policiais nos acompanharam para averiguar a situação. Eu já estava tremendo como vara verde só de pensar no que seria encontrado no apartamento 103. Voltei ao prédio no carro de Seu Cláudio rezando o terço pela alma de Seu Jonas.

Chegando ao prédio, os dois policiais viram que realmente tava muito forte o fedor de carne podre, a quantidade de moscas que infestavam o prédio e decidiram que o apartamento tinha que ser averiguado. Foi chamado o chaveiro da banquinha a uma quadra do prédio para que a porta fosse aberta. Meus olhos já estavam cheias de lágrimas.

Quando a fechadura foi desmontada e a porta aberta, os dois policiais entraram. Depois de cerca de cinco minutos saíram rindo, dizendo que tinha cadáver nenhum. O fedor vinha da carne e comida que estava na geladeira sendo que as chaves da caixa de luz estavam desligadas. Ou seja, a comida apodreceu dentro da geladeira. Chega já tava cheio de bichinhos na carne! Eu me dispus à juntamente com a Rose jogar fora tudo e limpar depois a cozinha.

Foi tendo ânsia de vômito que conseguimos tirar toda aquela carne e jogar fora. O congelador tava abarrotado de carne, por isso todo aquele fedor! Gastei três garrafas de água sanitária pra limpar tudo. Levou muito esforço e tempo, mas de noite já estávamos livres do fedor e das moscas. Registramos tudo, é claro, no Livro de Ata.

Mas continuava a curiosidade sobre o paradeiro de Seu Jonas, já que se a carne chegou á apodrecer dentro da geladeira de dar bicho. Cerca de duas semanas ele reapareceu. Claro que pedimos justificativas, né? Mesmo porque a gente tinha que justificar o fato que chamamos a polícia, entramos no apartamento dele e jogamos fora toda a comida da geladeira. O coitado virou muito sem-graça e contou que tinha ido à um Seminário em São Paulo e lá decidiu ficar mais tempo tirando as férias atrasadas, ficando cerca de um mês e meio. Ele havia desligado as chaves de luz pra economizar luz e evitar acidentes, mas não imaginava que a comida ia apodrecer. Vê se pode? Um homem que me pareceu ser de tanto estudo!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Férias ou algo do gênero.

Mal girou a chave na fechadura, pensou: "Eu preciso de férias!" Catou do chão as cartas (na verdade eram a cobrança do cartão de crédito e a conta do telefone celular) jogadas por baixo da porta com mau-humor e a certeza que aquilo, aquela vida que levava, não estava certa!
Ainda podia ouvir o professor Pacheco explicando da forma mais desinteressante possível a Epistemologia da Complexidade. Suas pernas eram pura dor pelos 25 minutos no ponto de ônibus após todo um dia trabalho em pé e ainda uma aula sobre a tal epistemologia... "Eu preciso urgente de férias" era o seu único pensamento.
Mas não férias como as suas últimas: fazendo trabalhos para a faculdade, estudando, aproveitando para fazer as revisões médicas, indo resolver problemas pendentes. Ou até realizando pequenas viagens, onde realmente ela conhecia muitos lugares e pessoas interessantes, mas passava o dia e noite toda andando, dançando, nadando...
Não! Ela precisava de férias de descanso: dias na cama despreocupadamente, assistindo a tv e comendo coisas que não dessem trabalho para fazer, como sanduíches e pratos congelados. O dia todo só descansando! Sem preocupações ou ocupações. Simplesmente descanso!
Enquanto tirava a roupa lembrava-se que não havia modo de conciliar as férias da faculdade com do trabalho, já que este é justo quando o comércio tem mais movimento. Isso seria perder dinheiro! "Que droga de vida essa minha!"
Quando sentiu a água morna em seu corpo, lembrou-se há muitos anos quando numa excursão que fez com os pais, ficaram num hotel que tinha uma banheira. Desejou estar naquela banheira simplesmente relaxando ao som de um cd do Djavan. Não era nem necessário férias, bastava um feriadão! Uns três dias já iria recarregar suas baterias. Mas como, se trabalhava nessas datas? Fechou a torneira com raiva.
Além disso, até a foramtura, sempre haveria um texto para ler, um ensaio para escrever, um trabalho de equipe para ir, tomando assim seus dias de folga. Estava sem apetite, foi dormir.
Já na cama pensou: "Amanhã eu não vou! Vou faltar na loja, vou faltar na faculdade. Eu quero é que tudo exploda! " Com satisfação imaginou no dia seguinte ligando para dar uma desculpa, o dia inteiro deitada despreocupadamente e lembrou que tinha lasanha no congelador, então era só colocar no microondas. Isso mesmo! Ela não iria! Perderia a féria do dia, mas se daria férias. Uma pequena, mas muito merecida férias! Não olharia o caderno, nem ao menos abriria a bolsa. Se ligassem, não atenderia. O máximo de esforço que faria era talvez ir à locadora e locar um filme, comprando um lanche hiper-delicioso no caminho. Sorria ao planejar o dia seguinte.
E assim acabou adormecendo, feliz que teria um dia de descanso.
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07:00
O despertador toca.
Ana levanta sem ao menos se espreguiçar vai logo tomar uma chuveirada antes que perdesse a coragem para tal e para acordar logo de uma vez.
Mais um dia, como tantos outros, à aguardava.



terça-feira, 10 de julho de 2007

Vanessa Simpson

Eu nunca fui muito de assistir "Os Simpsons". Assistia se estivesse passando na TV, quando eu a ligasse. Mas lembro bem que no início foi uma febre!
Outro dia, vi num blog (aí, por mais que eu tente, não me lembro qual foi, mesmo!) falando sobre o lançamento do filme dos Simpson. Minha impressão foi que tentavam reviver um desenho que me parecia já ultrapassado. Quantos anos deve ter desde o seu lançamento?
Mas aí, percebi que o objetivo é esse mesmo: tornar novamente a família de Springfield uma febre já com outra geração. Viabilizar mais uma leva de produtos lançados com os rostos dos personagens do desenho e consequentes lucros. Quem sabe, até uma sequência, hein? Hein? Hein?
E as estratégias iniciam no lançamento do filme... Eis que de repente o Orkut começou à ter alguns participantes Simpsons! Ah! Devem ser fakes! Pois aí que me deparo com conhecidos meus usando versões Simpson deles em seus avatar. E tinha uns tão parecidos e/ou engraçados!
Claro que quis o meu também! (Não, eu não devo mesmo ter personalidade!) Assim que consegui o link do tal site onde é possível fazer as criaturinhas, fui logo fazer a minha!
Parece uma versão Simpson do retrato-falado! Você tem que escolher o sexo, tipo corpóreo, cor de pele, tipo e cor de cabelo, formato de olhos, boca e nariz, além da estampa da camiseta e cor desta, calça e sapato. Claro que as opções não dão pra fazer uma versão lá muito fiel, vide a minha! Como se faz uma Simpson oriental? E o que fazer se meu tipo de corpo for intermediário entre 2 propostos? Tá bom que o objetivo não é só fazer auto-retratos, mas eu não poderia criar uma personagem oriental??? Oxiiii!
Pois no fim das contas, a estratégia funcionou, pois olha eu aqui falando de bonequinhos Simpson e fazendo propaganda do filme... hahahahaha

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Entrei de gaiata na Fnac - o dia que conheci os Paralamas.

28/06/07. Às 17 h finalmente cheguei a Fnac da Paulista. Depois de nervosamente pedir informações a alguns funcionários, localizei (na parte exterior da Fnac) onde estava a fila prá se pegar uma das 100 senhas. Comprei uma garrafinha de água mineral e o livro, fui ao banheiro e me posicionei ainda no início da fila.
O referido livro era esse aí do lado, chamado "Paralamas do Sucesso" que através de fotos de Mauricio Valladares faz uma densa cobertura da carreira da banda. Comecei à folhear o livro e através daquelas imagens, fiz uma pequena viagem pela minha vida. As fotos do início da carreira me lembraram uma cena em que eu criança na escola, cantava com a professora e meus coleguinhas de alfabetização "Entrei de gaiato num navio/ Entrei, entrei, entrei pelo cano"(Melô do marinheiro) enquanto a pró fazia e nos ensinava fazer barquinhos de papel. Imagens (e lembranças) depois, fui transportada quando já adolescente ficava na piscina do prédio com o som da vizinha tocando "Uma brasileira". Combinação perfeita! Um dos melhores (o melhor talvez, concorrência fortíssima) shows que assistir com certeza foi de Paralamas em 99. Foi maravilhoso e voltei pra casa com minha camisa branca tingida de pink (era a cor da moda) das camisas de outras pessoas que estavam ao meu reddor naquele show. E os clipes? Quando passava na MTV "Ela disse adeus" eu parava tudo pra ir ver. Quando soube do acidente de ultra-leve de Herbert, meu chão fugiu por longos segundos.
Eu não sou A maior fã da banda, mas eu gosto muito mesmo! Definitivamente faz parte da trilha sonora da minha vida. Vários momentos (que pra o post não ficar longo ou pq eram beeem pessoais não expus aqui) foram ao som de músicas do Paralamas. Será que existe quem não goste, quem odeie os Paralamas?
Por isso que quando soube que justo na semana que estaria de férias em São Paulo haveria uma sessão de autógrafos da banda, decidir imediatamente que iria!
Além do fator Paralamas, havia o fator Maurício Valladares, o querido Mauval! Você nunca ouviu falar dele? Até ano passado, eu também não. Até que um belo dia, soube que Rodrigo Amarante (Los Hermanos, minha doença) participaria numa terça ao vivo de um programa de rádio do Rio, mas que (A-hãn!!!) poderia ser ouvido pelo site da rádio. O tal programa de rádio era o RoNca_RoNca , a emissora era a OiFm e o apresentador era Mauricio_Valladares. Alguma coisa ali naquele programa (não saberia bem dizer o que) me fez na terça seguinte de novo ouvir (sempre pela net) e não só ouvir, como também enviar mensagens pelo site, já que estava na frente do computador mesmo! E me viciei no programa!!! No RoNquinha não se ouve as músicas da modinha atual. Sons antigaços, atuais e de lugares longíquos ou bandas desconhecidas têm o mesmo espaço na programação. De repente vi que havia vida (e ótimas músicas) fora do do Disk MTV e do repertório da Malhação (hihihi), com informação, com humor... Uma maravilha! De tanto participar e ser de uma cidade que não tem a OiFm no dial, acabei nomeada Representante Oficial do RoNquinha em Salvador. Conhece-lo seria o máximo!!!
Após 2 horas de fila no frio, pegar a senha 8, ouvir o grupo da frente falar mais ou menos mal dos Los Hermanos, ver Mauval e toda sem graça ir falar com ele, entrar finalmente na Fnac, mas pelo arranjo ficar no fundo, não conseguindo ver o showzinho dos Paralamas, ganhar o manto do Ronquinha das mãos de Mauval, ficar mais sem graça ainda de falar ele, tirar vááááárias fotos tremidas (a única que se salvou foi essa aí de Bi Ribeiro que tá ao lado), finalmente resolver filmar (detalhe, minha câmera não capta audio) e ser entrevistada por um tal de "Xupla" de um programa aê... finalmente chegou a minha vez de ter meu livro autografado por aquelas figuras queridas!!!
Mauval foi um fofo, escreveu um textinho que me deixou (Oh, vida! De novo?) sem graça total! Ainda falou pro Bi e Barone que eu era a Representante de Salvador. Falei um moooonte de bobagem (que só de me lembrar me dá uma vergonhinha), tirei foto tremidona com Mauval, filmei os caras (sem audio) , implorei que a banda faça logo um show em SSA e saí de lá felizona da vida! Sorrizão escancarado no rosto! Botei meu livro na sacola e fui flutuando pro hotel.
Emocionadíssima cheguei ao quarto de hotel e tive uma má surpresa que quase me faz cair dura no chão: a garrafinha de água que tbm tava na sacola tava vazando agua e esta fez estrago irreparável: Apagou quase que completamente a dedicatória e autógrafo de Maurício Valladares... Já os autografos das Paralamas estavam intactos! Da esquerda é de Barone, da parte superior direita é de Bi e embaixo, com caneta mais forte de Herbert. Vão-se as fotos e os autógrafos, fica a emoção do momento registrado em minha mente!