Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

Marcadores

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Fé, Bárbara! – Parte II

Parte I

Foi assim a parada: Eu tava bem na minha, tomando meu solzinho lá no Porto da Barra, quando Leléia começou uma cutucaria da porra no meu braço. É que ela queria me mostrar um deus grego, mistura de Xanddy do Harmonia com Brad Pitt. Tanto fez, tanto se rebolou, tanto se insinuou que acabou puxando conversa com o gatinho. Joedson era o nome dele. Não aconteceu nada ali, só trocaram telefones e tals.

Eu já nem lembrava mais dessa história, quando Leleía me ligou toda esbaforida. Ela tinha se encontrado com o gatinho no Shopping Piedade e ele a levou para ver umas paradas de filmes lá dos lados do Japão na Biblioteca Central. O cara ficou todo entretido nas paradas do filme, nem parecia que ela tava ali, toda gatinha, do lado. Ela viajando que ia assistir um filminho no Center Lapa prá dar uns pega no gato e acabou vendo foi umas coisa de samurai. Até cogitou estar de bafo ou cecê.

No fim, em cima de um lanche vegetariano, ele falou que era de uma religião oriental aê e que só podia se relacionar quem também fosse. E prá isso era fácil: Era só ir ao templo na Boca do Rio, dar um dinheirinho, ouvir e se ajoelhar. Leleia avaliou o bofe e achou que valia a pena, já que ela não é apegada a religião, não. Mas como não era besta nem nada, sozinha é que não ia. E me convocou prá empreitada.

E foi assim que tive que acordar cedo em pleno sábado. O que não faço por essas amigas que arranjei, hein? Que viagem! Além da demora do buzú, o raio ainda dá volta prá zorra. Valha-me! Seguindo o endereço, paramos numa casa de 2 andares. Nem parecia igreja.

Uma japinha bem simpática nos atendeu. Pelo que entendi, ela era tipo a pastora do lugar. Ainda bem que o Joedson estava lá, mas isso porque ele mora do lado. Ainda é fácil, né? Queria ver ser de uma religião do outro lado da cidade. Fora a gente, tinha mais umas 7 pessoas.

Naquela época, quando não tinha conhecimento dessas coisas, até achei que aquela igreja era pobre porque não tinha bancos para sentar. As pessoas rezam e se ajoelham nuns tapetinhos acolchoados em frente à uns quadros e estandartes.

Depois de uma conversinha, a japinha foi bem insistente em cobrar o dízimo. É! Por que nessa religião, você nem bem entendeu nada, mas já entra com o “dízimo”. Como o valor tava em aberto, dei uma nota de R$1,00 que naquela época ainda existia. Foi mesmo! Eu tava lá era de acompanhante, ou melhor, de vela. Até acho que Leleia é que devia pagar a minha. O pior que ela me olhou mais feio que a japinha, vê se pode? Como queria fazer bonito pro gatinho, deu R$10,00. A japinha anotou nossos nomes e o valor da contribuição.

Nisso começou a cerimônia toda. Olha, eu me lembro de meus joelhos terem doido de tanto tempo que durou eu ajoelhada. Era num idioma que entendi nada. Só sei que na hora mesmo do batismo, ficamos só eu, Leleia e mais duas mulheres. Foi um tal de se abaixar que não tinha mais fim. Eu já tava achando aquilo tudo uma piada, não vou mentir. Como é que aquilo ia entrar no meu espírito naquela língua que só era “nagui-nigui-nigui-nagua” e eu naaada de entender!

Teve uma hora que a mulher resolveu falar português: na hora de falar os nossos nomes, apontando quem era e quanto nós contribuímos. Olhe, eu lembro até hoje: uma deu R$20,00, outra R$50,00, Leleia R$10,00 e eu R$1,00. Quase que eu aproveito que tava ajoelhada mesmo e comecei a cavar um buraco para me esconder. Ô vergonha! Ô raiva!

Eu só queria sair dali, nem quis comer o que ofereceram e fui para casa bufando. Vê se isso é coisa de Deus?!

O pior é que o lance entre Leleia e Joedson nem vingou. Quando finalmente ela conseguiu beijar o cara, saiu toda babada de cuspe do desinfeliz. Não era a toa que bonito como era, tava solteiro. Também, esses beatos não pode saber beijar mesmo, quanto mais o resto, né?

Só sei que acabei interessada nesses lances do oriente, mas dessa vez em religiões mais conhecidas e que não pediam logo o dindim.

(Continua.)

domingo, 10 de abril de 2011

Fé, Bárbara! - Parte I


Quando falam de religião e tals, eu digo: “Pô, véi... Eu sou baiana, tá ligado?” Mas quase nunca as pessoas entendem, então eu deixo prá lá, digo que sou uma pessoas muito espiritualizada e essas paradas aê.

Eu nasci com o cordão umbilical enrolado no pescoço num dia 4 de dezembro. Por isso “Maria Bárbara”, porque era prá ser Ana Carolina! Mas arranjaram de falar prá minha mãe que criança que nasce com cordão umbilical enforcando tem que chamar Maria, caso contrário morre afogada ou queimada. E se for homem? E eu lá sei! Chama de Mário... E Bárbara porque nasci no dia de Santa Bárbara, que é a mesma coisa de ser Iansã aqui na Bahia. Minha mãe, prá fortalecer que nada de ruim me acontecer, reforçou com a santa do dia. E dizendo ela que levando uma orixá de brinde. Vê se pode? Minha mãe tem cada uma!

E que ninguém me chame só de Bárbara na frente dela, não. “É Maria Bárbara!” É que ela acha que prá parada do afogamento ou “queimamento” não acontecer, tem que todo mundo me chamar de Maria também. Eu nem ligo mais, até acho graça. Mas eu ficava retada quando ela fazia isso, mais nova. Por que fica um nome pesado “Maria Bárbara” né? Não combina comigo, não! Mas agora ta relax, todo mundo já sabe que na frente de minha mãe eu sou a Maria Bárbara e ta tudo lindo.

Quem olha assim, acha até que minha mãe entende dessas coisas de religião, né? Mas que nada! Acho que ela se deu por satisfeita com meu nome, pois apesar de ter madrinha e padrinho desde antes de nascer, só fui batizada aos 12 anos. Que mico! Um monte de bebezinhos e eu lá, de vestido embaixo do joelho cheio de fricotes e cabelo mais amarrado que cavalo arredio. E isso em pleno verão! Como se a situação já estivesse muito bonita pro meu lado, tive que ainda segurar uma vela.

Mas encarei! Mesmo porque, se fui batizada, foi muito pela minha insistência. Não dava mais prá ser pagã e correr o risco de ser atacada por um Lobisomem. Ria não, que é sério!

Todo ano a gente ia prá o sítio de Toinho pro São João. Eu passava o recesso junino todo lá, na maior gandaia. Exceto quando anoitecia, que ai que começava meu drama! Meus primos, aquelas pestes, contavam umas histórias super escabrosas sobre um Lobisomem que morava por aquelas bandas. Que nem adiantava se esconder, que até dentro de casa entrava, mas só atacava quem fosse pagão. E adivinha quem era a única que não havia sido batizada? Ai! Dava um medão! Dormir perto da janela ou da porta, nem pensar. E sozinha, jamais. Isso quando eu dormia, porque qualquer sonzinho me acordava. Latidos, então, vixe! Eu jurava que no dia seguinte ia convencer a minha mãe voltar para casa. Mas, amanhecia, começava a brincar e esquecia. Então, anoitecia!

Apesar do mico e do calor, deu um alivio da zorra ser batizada!


Pois é, batismo por batismo, eu sou católica. Se bem que já me batizei de outra religião que nem lembro o nome, umas paradas dos lados do Japão. Isso aconteceu quando eu tinha uns 19 anos.

(Continua)

Link das imagens: Símbolos das religiões Lobisomem