Esse é o relato de um fato pitoresco que realmente ocorreu. Prá preservar os envolvidos, mudei o nome de todos.
Quando soube que eu iria me atrasar pro nosso encontro, Eveline resolveu dar uma volta pelo shopping, indo parar numa loja de departamentos.
Começou olhando a seção feminina, passou pelos acessórios, resolveu ir à seção de calçados... Quando viu, já estava na seção masculina. Mais especificamente entre as bermudas esportivas. E foi inevitável pensar em Jaílson.
- Alô.
- É Jaílson?
- Sim.
- É Eveline. Tudo bem?
- Beleza! O que você manda, querida?
- É que eu estava aqui pensando em você e como estou na seção masculina de uma loja, gostaria de saber o que posso te dar de presente.
- Um presente?
-Ah, e também porque essa semana foi o dia dos professores, não foi?
- É! É sim! hehehehe
- Então! O que você quer que ganhar?
- Uma cueca. – e começou a rir
- Uma cueca?
- É! Uma cueca colorida.- ainda dando risada.
- Huuuum! Deixa eu ver que tô até perto de onde tão as cuecas... Deixa eu ver... Aqui tem uma cor de abóbora.
- Tem cor de abóbora? Mas é só cor de abóbora ou tem mais cores nela?
- Bem... tem a barra do elástico preta, mas de resto é cor de abóbora.
-Ah! É que eu gosto de cueca muito mais colorida. – segundo Eve, ai que ele quase explodiu na risada
- Ah! Mais colorida!
- Hum-rum. Muito mais colorida.
- Tá bom! Vou procurar uma cueca bem colorida prá te dar, então.
- Certo. Cheiro, querida!
- Um beijo.
Eu achei muito estranho quando ela me contou. Ele podia ter pedido uma camisa, uma bermuda, ou até nada. Mas ele pediu cueca, o que seria bom! Mas a cueca teria que ser colorida, o que eu suspeitava que não era tão bom assim.
Das duas, uma: Jaílson era gay ou não queria nada com Eveline. Porém minha amiga tava no céu, achando que o gato já tava na dela. E eu achando essa história muito, mas muito estranha.
- Essa é boa, Van! Você é professora, é? Quer presente? – ao meu aceno de afirmativo- Então eu te pago um chope e você também me paga um, já que eu também sou professora.
- Eu preferia uma calcinha colorida! – disse, já entre risadas.
- Você realmente vai dar a tal cueca? – me surpreendi.
- Eu prometi e vou dar. Além do mais, quero ver no que isso vai dar! – falou com uma voz cheia de segundas, terceiras e quartas intenções.
- Ou se você vai conseguir dar. Mulher, mulher...
- Eu posso pecar por várias coisas, mas não por não tentar, né? Vamos, me ajuda a procurar!
Descobri então o praticamente monocromático mundo das cuecas. O fenômeno que já havia percebido nas cores dos carros, se repetia ali: de início só vi cuecas brancas, pretas e cinzas. Procurando com atenção vi um conjunto do tipo: “leve 3, pague
E o pior era a vontade de falar prá ela que suspeitava que o cara não tinha exatamente um gosto excêntrico prá roupas íntimas. Ele era gay, mesmo. Estava parecendo um nó na garganta.
Acabei falando:
- Eve, já pensou que ele pode ter falado “cueca colorida” como uma forma de metáfora?
- Metáfora?
- É! Eu acho que ele quis te dizer que é..
- O que? Bicha? Vanessa! Muito me admira você! – me repreendeu.
- Ouxe, por que?
- Preconceituosa, desse jeito! Só por que ele é professor de crianças? Acha que por isso ele é gay?
-Não. Eu acho que ele pode ser gay, ou seja, é uma possibilidade. E é por causa do que ele te falou e não porque ele é professor. Ele te disse que quer uma cueca muito, muito, muito colorida. Você acha que ele tava falando de roupa íntima?
- E cueca é o que?
- Pode ser um homem, não pode não? E colorida pode significar um gay.
Dessa vez, eu quem não falei nada.
Na vida real, nem sempre os mistérios são desvendados. Esse fato ocorreu em outubro de 2008 e até hoje me pergunto se afinal o cara é gay ou tem um gosto estranho prá cuecas. Só sei que até hoje Eveline tem a tal cueca numa embalagem de laços vermelhos.
E você? O que acha?