Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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terça-feira, 6 de março de 2007

O samba de Adelaide

ADELAIDE
(China - Mombojó)
O que eu entendo por ser meu
É tudo que eu posso te dar
O meu amor mas primeiro eu
Preciso saber se você vai gostar
Deixa o meu sentimento te falar
Vou mostrar que sou alguém melhor
Não vai se arrepender
Porque eu não vou deixar você chorar por mim
Se olhou no espelho e achou graça do que viu. A maquiagem dos olhos já havia parado no queixo, mas tudo bem! Pegou um pedaço de papel higiênico, molhou um pouco e tentou diminuir aquela borração de lápis de olho e sombra que lhe dava uma olheira imensa. Como se não ter dormido direito já não lhe desse uma expressão maravilhosamente cansada...
Molhou o pente que encontrou e tentou dar um aspecto mais apresentavel a seus cabelos. Por fim, acabou amarrando num rabo de cavalo usando uma providencial xuxinha preta que sempre trazia no pulso esquerdo, embaixo do relógio. Passou o brilho labial e saiu do banheiro.
Notou que apesar de não ter ficado nem 15 minutos no banheiro, o dia já estava mais claro. Olhou o relógio, eram 5:57. Em breve a rua despertaria também, se enchendo de crianças fardadas e pessoas apressadas indo ao trabalho ainda bocejando. Mas o que importava a Adelaide era que os ônibus retornavam a rodar com mais frequência apartir daquele horário.
Se dirigiu ao sofá de dois lugares onde havia tirado um breve cochilo e dobrou o lençol fino que haviam lhe dado pra que se cobrisse. Pôs em cima da almofada que fez as vezes de travesseiro. No chão, no outro sofá e na rede amigas e amigos, de tantas festas, como a da noite anterior, ainda adormecidos.
Seu olhar, no entanto, se fixou em apenas um dos corpos. Apenas de calça, com a carteira e a camisa dobrada em cima do tênis ao lado do colchonete. Ele dormia com a boca entreaberta e de forma tão profunda e despreocupada que mais parecia uma criança. Quis acariciar suas costas. Desejou lhe fazer um cafuné. Porém, não pôde. Só podia abraça-lo com o olhar. Por isso a necessidade de fugir. Precisava sair dali o quanto antes.
Quando se encontravam, ela representava a sua farsa que ele era apenas um amigo, mas seu coração mendigava uns momentos com ele. Nas breves vezes que ficavam juntos, tentava sugar cada segundo, aproveitar cada beijo, cada olhar. Abraçava tão forte para poder de alguma forma capturar aquela sensação em seu corpo. Porém, depois, eram só amigos. E ela voltava a sua farsa. Porém ali, com todos dormindo, era difícil continuar a fingir. Ainda mais que na noite anterior teve que segurar as lágrimas a base de roscas, ao vê-lo beijando outra garota. Ela sentia suas emoções a flor da pele. Felizmente confundiram seu azedume com bebedeira.
Calçou as sandálias, colocou os brincos e anéis. Pegou a bolsa e mais uma vez olhou para ele. E durante dois minutos não desviou o olhar. Queria ter o poder de arrancar com as mãos a tristeza e sofrimento que sabia habitar naquele corpo, naquela alma. Desejava profundamente protegê-lo em seus braços. Porém, respirou fundo e se dirigiu a porta. Já do lado de fora, mais uma vez olhou-o e finalmente puxou a porta, fechado-a definitivamente.
Olhou fixamente pra o reflexo dos olhos no espelho do elevador. Seu coração estava apertado. Porém, o dia estava nascendo e a vida continua! E com esse espiríto que saiu do prédio com o barulho do salto recoando pelo pavimento.
Olhou pra os dois lados, decidindo-se para onde iria. Um taxi passou vagarosamente ao seu lado e sem planejar, fez sinal. Indicou o seu destino e afundou no banco traseiro do Gol. Sentiu um grande alívio em se distanciar daquela prédio, daquele bairro, daquilo que fazia ela sofrer e se sentir uma idiota.
Felizmente havia seu trabalho com a mesa cheia de providências a tomar. Felizmente havia seu curso de inglês com todas as suas dificuldades de pronúncia. Felizmente havia seus três cachorros que requeriam sua atenção e seus passeios.
Felizmente havia a sua vida pra lhe ocupar a mente e o corpo! E isso lhe aliviava um pouco o coração...

9 comentários:

Anne disse...

Adelaide, não dá ouvidos ao coração! Ele não pensa!!(Ai, se iso fosse possível...)

Anônimo disse...

O coracao sempre fala mais alto que a razao, sentimentos melhor sem ele pior sem ele

Anônimo disse...

Gostei do blog.

Virei com mais frequencia

Comenta o meu

www.jcamara.wordpress.com

Jeffmanji disse...

Olá, Vanessa!
de vez em quandoa gente se cruza, né? Que bom...

Adelaide tá meio depre, né? deixa disso, menina. Borrar a maquiklagem é pras fracas!


kkkkk

Passa lá tb,menina.

Wagner disse...

poxa vanessa... vc demorou para dizer que queria participar do desafio. Aparece com mais frequencia lá e prometo que vc irá participar do próximo!

bjs

André Martins disse...

Acorda Adelaide!
hehehehehehehe
Very good!
;]

Henrique Fogli disse...

Faltou atitude da anã paraguaia!!!
Muito bom o texto!!!
Tava devendo um comentário pra ti né querida? Passarei por aqui mais vezes!

Beijo!

Gabriela Martinez disse...

Ai ai ai! Esse assunto anda me perseguindo. Parti o coração de um amigo. Ele é minha Adelaide. Infelizmente nunca me viu dormindo. Eu ronco como um trombone e ele ia desapaixonar rapidinho!
huhuh
Ótimo texto!
bjao

Edson Bezerra disse...

Realmente deve é complicado manter uma relação distante e, ao mesmo tempo, próxima com uma pessoa amada que não está mais conosco. E o pior é quando somos nós os relegados ao segundo plano.
Vou visitá-la mais vezes. Quando tiver tempo, me faça visitas também. Gostei do blog. Posso linkar?