Marcadores
domingo, 6 de novembro de 2011
s, o, so
domingo, 30 de outubro de 2011
Maior e Pequeno
-Eu caí! Tô toda ralada! – alguém atrás de mim gritou.
Estava no banheiro de um shopping, lavando as mãos, quando ouvi o lamento choroso. Olhei em direção da voz. Aparentava ter uns 25 anos e estava com dois meninos, aparentando respectivamente 1 e 2 anos. Estava com uma das pernas da calça de strecht puxada até acima do joelho sangrando, que tentava lavar com as mãos em conchinha. Percebi que um dos seus braços também estava ferido.
-Olha só prá isso! Oh, moça, me ajude!
-Nossa! Como foi isso? – uma senhora, mais solícita que eu, aproximou-se.
- Esses meninos, moça... Eu tava subindo a escada rolante segurando a mão do Pequeno, quando vi que o Maior havia ficado prá trás. Corri na escada e peguei o menino, mas ai eu vi que o Pequeno ficou sozinho, quando corri prá pegar, eu cai. Nem sei como foi! Quando vi, tava no chão com os degraus da escada raspando meu joelho.
-E os meninos? – perguntava a senhora procurando band-aid na bolsa.
Resolvi também ajudar e passei a procurar curativos também na minha bolsa.
- A sorte foi que um senhor pegou os meninos e me ajudou a levantar.
- Nenhum segurança viu? – perguntei.
-Acho que não. Senti tanta vergonha!
Estávamos tão concentradas ouvindo e procurando curativos que, pelo menos eu, já havia até esquecido que os meninos estavam lá. Quando ouvi a voz de outra mulher:
-De quem é esse menino que está escalando a pia? Olhem seus filhos!
Era o Maior que estava já praticamente em cima da pia. A mãe correu para pegá-lo, mas logo percebeu que o Pequeno não estava por perto. Ela largou o menino e saiu do banheiro gritando:
-Meu bebê! Meu Pequeno sumiu! Meu filhooooo...
O Maior bem que quis correr atrás da mãe, mas a senhora que estava ajudando a moça anteriormente o segurou.
-Esse menino vai acabar se perdendo também. É melhor segura-lo, que ela não aparenta estar muito bem, não.
Do banheiro se ouvia a gritaria da mulher do lado de fora.
Deu-me um clique e procurei o Pequeno dentro das cabines do sanitário. Dito e certo! No terceiro encontrei-o com a mãozinha mexendo na água do vaso. Levei-o pela (outra) mão para a parte das pias onde estava o Maior.
E ficamos eu e a senhora com o Maior e o Pequeno, pensando no que fazer.
Entrou a mãe acompanhada de um segurança e uma funcionária que aparentava ser da limpeza.
- Eles estão aqui! –a mãe gritou. – O meu Deus! Eu estou passando por tratamento de depressão, minha mãe está internada, o pai das crianças...
- Se acalme senhora! – falou o segurança. – Agora vamos lá na enfermaria.
A funcionária de uma vez só pegou cada menino num braço.
-Deixa que eu levo essas crianças para que a senhora não perder esses meninos de novo.
E assim saíram do banheiro.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
11 de setembro de 2001
Acordei já tarde. Provavelmente o despertador tocou, eu o desliguei e voltei a dormir como de costume.
Tinha consulta marcada para as 8h. Lembro que voei da cama para o banheiro e de lá para a rua. Se eu não me engano, assim que cheguei no ponto, o ônibus passou. Cheguei em cima da hora da consulta. No retorno, o ônibus já estava no ponto e tive que sair correndo e gritando para conseguir alcançá-lo.
Cheguei, nem sei se tomei outro banho, mas fui dormir.
Acordei lembrando que ainda não havia comido nada naquela manhã. Logo eu, que sinto tonturas só em pensar de passar da hora de comer. Foi a correria ao acordar!
Fiz café e tomei com um pão com geléia. Li um pouco e voltei a dormir por cima do livro. Eu costumava acordar por volta das 9h. Se acordasse um pouco mais cedo que isso, era motivo prá passar o dia sonolenta. Minha única ocupação era a faculdade que fazia de noite.
Engraçado, eu sempre fui daquelas pessoas que acordam ou chegam e casa e ligam logo a TV. E nem sou de dormir desse jeito! Mas aquela manhã também não tinha nada de anormal. Estava destinado para ser um daqueles inúmeros dias, sem contratempos, que logo esquecemos.
O telefone tocou, me acordando. Era minha mãe:
- O que está acontecendo no World Trade Center?
- Como é que é?
- Nas Twin Towers.
-Ãhn?
-Você não ta com a TV ligada, não? Tão dizendo aqui no trabalho que está havendo algo nas Twin Towers.
- O que é “Djuin tauers”? – Eu não sabia nem que era eu, acordada com essa ansiedade toda, imaginem...
- Em Nova Iorque. Liga a TV, Vanessa!
- Ta tendo um incên...
Quando vi as imagens da primeira e depois a segunda torre caindo, eu cai no chão de susto! Deviam ser imagens recapturadas do que já havia ocorrido.
-O que foi? O que foi Vanessa?
Eu fiquei zonza.
-Caíram, mãe! Os prédios do World Trade Center caíram. As duas!
-A partir de hoje, o mundo nunca mais será o mesmo!
Lembrei que dois anos antes estive em Nova Iorque e usava as torres do World Trade Center como ponto de referência. Não sei quem nunca as viu de perto, tem noção do tamanho que aqueles prédios tinham.
Na faculdade, não houve outro assunto. Por mais que parecesse tão longe de nós, não impedia uma certa tensão.
Devido ao ocorrido, gravou-se na minha memória aquele dia que prometia ser tão banal.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
O ônibus
Já chegou ao ponto de ônibus ansiosa. Olhou o relógio. Olhou um lado da rua. Na outra direção também por hábito. No outro lado da rua passava um ônibus que também passava em seu destino, mas o trajeto era tão demorado! O desse lado de cá é bem mais rápido.
Está vindo um. Será ele? Não é. Olha o relógio. Pessoas correm para subirem no ônibus. E ela fica.
Minutos se passam. Uma criança chora perto, mas não vira o rosto para ver. Aperta a bolsa com o braço contra o corpo. Olha o relógio.
No ponto em frente, o ônibus de percurso maior. Quase vazio. Será que deveria atravessar e pegar ele. O ônibus começa a andar. Ai, devia ter pegado esse mesmo! E se o outro demorar? O ônibus vira uma esquina. Devia ter pegado esse mesmo!
Não se ouve mais o choro. Adolescentes passam rindo. Outro ônibus chega, mas não é ainda o seu. Olha o relógio.
Pessoas chegam, pessoas pegam suas conduções e ela ali esperando. Olha na direção em que o ônibus que espera, devia vim. Nada! Só carros e motos.
Pensando bem, aquele outro ônibus nem tem o percurso tão maior assim. A diferença deve ser de uns dez minutos. Melhor que ficar esperando no ponto.
Atravessa a rua de duas mãos com dificuldade, devido ao trafego de carros. Pronto! Logo estará à caminho de seu destino!
Quando olha para o outro lado da rua, mal acredita em ver o ônibus do percurso menor. Tenta atravessar, mas nenhum motorista se sensibiliza em deixá-la passar. O ônibus segue o seu caminho, deixando-a ali: parada no ponto.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Fé, Bárbara! – Parte II
Eu já nem lembrava mais dessa história, quando Leleía me ligou toda esbaforida. Ela tinha se encontrado com o gatinho no Shopping Piedade e ele a levou para ver umas paradas de filmes lá dos lados do Japão na Biblioteca Central. O cara ficou todo entretido nas paradas do filme, nem parecia que ela tava ali, toda gatinha, do lado. Ela viajando que ia assistir um filminho no Center Lapa prá dar uns pega no gato e acabou vendo foi umas coisa de samurai. Até cogitou estar de bafo ou cecê.
No fim, em cima de um lanche vegetariano, ele falou que era de uma religião oriental aê e que só podia se relacionar quem também fosse. E prá isso era fácil: Era só ir ao templo na Boca do Rio, dar um dinheirinho, ouvir e se ajoelhar. Leleia avaliou o bofe e achou que valia a pena, já que ela não é apegada a religião, não. Mas como não era besta nem nada, sozinha é que não ia. E me convocou prá empreitada.
E foi assim que tive que acordar cedo em pleno sábado. O que não faço por essas amigas que arranjei, hein? Que viagem! Além da demora do buzú, o raio ainda dá volta prá zorra. Valha-me! Seguindo o endereço, paramos numa casa de 2 andares. Nem parecia igreja.
Uma japinha bem simpática nos atendeu. Pelo que entendi, ela era tipo a pastora do lugar. Ainda bem que o Joedson estava lá, mas isso porque ele mora do lado. Ainda é fácil, né? Queria ver ser de uma religião do outro lado da cidade. Fora a gente, tinha mais umas 7 pessoas.
Naquela época, quando não tinha conhecimento dessas coisas, até achei que aquela igreja era pobre porque não tinha bancos para sentar. As pessoas rezam e se ajoelham nuns tapetinhos acolchoados em frente à uns quadros e estandartes.
Depois de uma conversinha, a japinha foi bem insistente em cobrar o dízimo. É! Por que nessa religião, você nem bem entendeu nada, mas já entra com o “dízimo”. Como o valor tava em aberto, dei uma nota de R$1,00 que naquela época ainda existia. Foi mesmo! Eu tava lá era de acompanhante, ou melhor, de vela. Até acho que Leleia é que devia pagar a minha. O pior que ela me olhou mais feio que a japinha, vê se pode? Como queria fazer bonito pro gatinho, deu R$10,00. A japinha anotou nossos nomes e o valor da contribuição.
Nisso começou a cerimônia toda. Olha, eu me lembro de meus joelhos terem doido de tanto tempo que durou eu ajoelhada. Era num idioma que entendi nada. Só sei que na hora mesmo do batismo, ficamos só eu, Leleia e mais duas mulheres. Foi um tal de se abaixar que não tinha mais fim. Eu já tava achando aquilo tudo uma piada, não vou mentir. Como é que aquilo ia entrar no meu espírito naquela língua que só era “nagui-nigui-nigui-nagua” e eu naaada de entender!
Teve uma hora que a mulher resolveu falar português: na hora de falar os nossos nomes, apontando quem era e quanto nós contribuímos. Olhe, eu lembro até hoje: uma deu R$20,00, outra R$50,00, Leleia R$10,00 e eu R$1,00. Quase que eu aproveito que tava ajoelhada mesmo e comecei a cavar um buraco para me esconder. Ô vergonha! Ô raiva!
Eu só queria sair dali, nem quis comer o que ofereceram e fui para casa bufando. Vê se isso é coisa de Deus?!
O pior é que o lance entre Leleia e Joedson nem vingou. Quando finalmente ela conseguiu beijar o cara, saiu toda babada de cuspe do desinfeliz. Não era a toa que bonito como era, tava solteiro. Também, esses beatos não pode saber beijar mesmo, quanto mais o resto, né?
Só sei que acabei interessada nesses lances do oriente, mas dessa vez em religiões mais conhecidas e que não pediam logo o dindim.
(Continua.)
domingo, 10 de abril de 2011
Fé, Bárbara! - Parte I
Quando falam de religião e tals, eu digo: “Pô, véi... Eu sou baiana, tá ligado?” Mas quase nunca as pessoas entendem, então eu deixo prá lá, digo que sou uma pessoas muito espiritualizada e essas paradas aê.
Eu nasci com o cordão umbilical enrolado no pescoço num dia 4 de dezembro. Por isso “Maria Bárbara”, porque era prá ser Ana Carolina! Mas arranjaram de falar prá minha mãe que criança que nasce com cordão umbilical enforcando tem que chamar Maria, caso contrário morre afogada ou queimada. E se for homem? E eu lá sei! Chama de Mário... E Bárbara porque nasci no dia de Santa Bárbara, que é a mesma coisa de ser Iansã aqui na Bahia. Minha mãe, prá fortalecer que nada de ruim me acontecer, reforçou com a santa do dia. E dizendo ela que levando uma orixá de brinde. Vê se pode? Minha mãe tem cada uma!
E que ninguém me chame só de Bárbara na frente dela, não. “É Maria Bárbara!” É que ela acha que prá parada do afogamento ou “queimamento” não acontecer, tem que todo mundo me chamar de Maria também. Eu nem ligo mais, até acho graça. Mas eu ficava retada quando ela fazia isso, mais nova. Por que fica um nome pesado “Maria Bárbara” né? Não combina comigo, não! Mas agora ta relax, todo mundo já sabe que na frente de minha mãe eu sou a Maria Bárbara e ta tudo lindo.
Quem olha assim, acha até que minha mãe entende dessas coisas de religião, né? Mas que nada! Acho que ela se deu por satisfeita com meu nome, pois apesar de ter madrinha e padrinho desde antes de nascer, só fui batizada aos 12 anos. Que mico! Um monte de bebezinhos e eu lá, de vestido embaixo do joelho cheio de fricotes e cabelo mais amarrado que cavalo arredio. E isso em pleno verão! Como se a situação já estivesse muito bonita pro meu lado, tive que ainda segurar uma vela.
Mas encarei! Mesmo porque, se fui batizada, foi muito pela minha insistência. Não dava mais prá ser pagã e correr o risco de ser atacada por um Lobisomem. Ria não, que é sério!
Todo ano a gente ia prá o sítio de Toinho pro São João. Eu passava o recesso junino todo lá, na maior gandaia. Exceto quando anoitecia, que ai que começava meu drama! Meus primos, aquelas pestes, contavam umas histórias super escabrosas sobre um Lobisomem que morava por aquelas bandas. Que nem adiantava se esconder, que até dentro de casa entrava, mas só atacava quem fosse pagão. E adivinha quem era a única que não havia sido batizada? Ai! Dava um medão! Dormir perto da janela ou da porta, nem pensar. E sozinha, jamais. Isso quando eu dormia, porque qualquer sonzinho me acordava. Latidos, então, vixe! Eu jurava que no dia seguinte ia convencer a minha mãe voltar para casa. Mas, amanhecia, começava a brincar e esquecia. Então, anoitecia!
Apesar do mico e do calor, deu um alivio da zorra ser batizada!
Pois é, batismo por batismo, eu sou católica. Se bem que já me batizei de outra religião que nem lembro o nome, umas paradas dos lados do Japão. Isso aconteceu quando eu tinha uns 19 anos.
(Continua)
Link das imagens: Símbolos das religiões Lobisomem
quinta-feira, 24 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
Será que agora aprendo a escrever?
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Pessoa, humano.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Como perder um cara com 10 erros de maquiagem
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Pôr do sol na ponta dos dedos
Gente, eu confesso: estou viciada nesse lance de esmaltes / nail art!
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Dona Mariquinha
Dona Mariquinha era uma mulher muito temente a Deus. Muito religiosa, mesmo! Pode perguntar ao padre Raimundo: Dona Mariquinha, desde novinha, não era mulher de perder missa ou faltar com os trabalhos da comunidade.
- Se cada um fizer a sua parte, Deus não irá faltar com a Dele! - repetia.
Acontece que sua casa ficava justo na rua às margens do Rio Suçuarana, que contornava sua pacata cidade. E perto dali, já há alguns anos, foi construída uma barragem na cachoeira rio acima. Isso até que era bom, pois na estação das chuvas o rio não enchia mais tanto.
Mas a obra do homem é imperfeita, né? Justo num toró, duas comportas da barragem não agüentaram a pressão da água e TCHIBUM... Foi aquele mundaréu de água rio abaixo.
Foi um “Deus me acuda!” literalmente. Dona Mariquinha se ajoelhou no pequeno altar que mantinha no quarto e dali oração para Deus segurar as águas que a essa altura já começava a invadir a entrada da casa.
- Mariquinha, mulher! ‘Bora logo! – gritou Totonho, seu marido.
- ‘Bora pr’onde?
- ‘Bora fugir que o aguaréu ‘tá vindo! ‘Bora prá parte alta da cidade que aqui não vai dar jeito, não.
- Que homem de pouca fé é você! Se diz tão católico e com essa pouca confiança em Deus. Ele não há de nos faltar! Se junte a mim no Terço.
-Mas, Mariquinha... Você reza no caminho. Vamos, mulher!
- Deus está vendo essa sua falta, hein? Vá você com sua covardia que ficarei aqui com minha fé.
-Mas, mulher...
Totonho acabou fugindo prá parte alta da cidade e Dona Mariquinha ficou, rezando, já com a água chegando ao quarto onde estava.
Algum tempo depois, ouviu alguém gritar:
-Ainda tem alguém ai?
- Eu estou aqui, na Graça de Deus. –gritou de volta.
Seu Vicente entrou de canoa e tudo, encontrando-a empoleirada no em cima do guarda-roupa com a imagem de Santo Antonio nos braços.
- Ô vizinha, o que está fazendo ai? Inda bem que algo parecia me dizer prá vim prá esses lados. Ainda muita água ta vindo. Faz o favor de vim comigo que a sinhora levo prum lugar mais seguro.
- Muito obrigada ao senhor, mas vou ficar aqui. O lugar mais seguro que existe é com Deus e eu estou com ele. Eu que fui uma boa cristã minha vida todinha, não hei de ser abandonada agora. Deus, que tudo pode, irá proteger meu lar e a mim!
- Mas vizinha! A senhora tem que sair daqui. Minha canoa é humilde, mas faz medo não. Melhor que ficar ai. A senhora faz o favor de vim que eu te acudo.
- Não preciso ir a lugar nenhum, pois quem bem sabe do quando fui e sou uma boa católica é Deus. Apesar de não ter virado freira, eu me dediquei ao próximo. Então agora minha fé não vai falhar e Deus me dará o livramento!
Não adiantou Seu Vicente gastar o latim, pois cerca de 20 minutos depois ele remou para fora da casa sem a Dona Mariquinha que não queria sair por nadica desse mundo. Ela insistia que tava protegida por Deus.
O padre Raimundo até quis ir até a casa na canoa, mas o impediram. Seria uma sandice alguém querer descer! Pois veja que Dona Mariquinha morava justo na margem do rio. Quer dizer, agora tava bem no meio daquele mundão d’água.
Mas num é que vinha um helicóptero da polícia da capital, auxiliando nos resgates? Quando sobrevoavam aquelas casas imersas na água, viram uma senhora ajoelhada, agarrada numa imagem de Santo Antonio, em cima de um dos telhados. Sim, era a Dona Mariquinha.
-Oh, coitada! Deve todo mundo ter fugido e esquecido a velha prá trás. – comentou o piloto.
De pronto jogaram uma escada de corda e um dos policiais desceu para auxiliar a senhora no resgate. Mas quem disse que Dona Mariquinha queria ir?
-Não, muito obrigada, mas não preciso ir. Minha fé em Deus é grande e Ele me dará o livramento e nada acontecerá comigo.
- Minha senhora, este local está perigoso. A água está descendo e logo todas as casas ficarão embaixo d’água.
-Você não tem fé em Deus, não?! Pois eu tenho sei que ele dará ordens para proteger aqueles que acreditam Nele. Nada de mal irá me acontecer. Eu vou ficar aqui louvando a Deus!
O policial e a Dona Mariquinha começaram a discutir. “Que velha teimosa! Deve já estar gagá.” Depois de muito trelelê, o policial decidiu levar a mulher por bem ou por mal. Afinal, seu dever era salvá-la independente de seu estado mental. Pois Dona Mariquinha começou a querer fugir do homem e começou a correr pelo pequeno telhado. Só que uma telha quebrou, Dona Mariquinha caiu quebrando as demais e ela acabou indo prá dentro da casa submersa.
Bem, ela morreu e como realmente sempre foi uma mulher muito devota e boa, foi para o Céu.
Mas quem disse que Dona Mariquinha estava satisfeita? Ela tava uma arara!
- Como Deus pôde me abandonar justo na hora que mais precisei Dele? Eu sempre fui uma mulher muito seguidora dos Seus mandamentos. Prá que? Prá morrer assim? Desassistida? Deus não podia me dar uma paga dessas! – reclamava.
-Não. Deus me deve uma explicação! Quero falar com ele!- decidiu.
Tanto encheu o saco dos anjos e dos Santos, especialmente de São Pedro, que não é que acabou conseguindo uma audiência?!
Nem bem os portões celestiais sem abriram, Dona Mariquinha já entrou reclamando:
-Mas, Deus! Como pôde fazer aquilo comigo?
-Aquilo o que Mariquinha, minha filha? –falou pacientemente.
- Me abandonar para morrer daquele jeito! Justo eu que desde criança seguir seus mandamentos, nunca faltei aos meus compromissos na paróquia e na comunidade, casei pura, criei meus filhos e meus afilhados nos mandamentos da Igreja, fiz trabalho voluntário...
Durante bem uns quarenta minutos Dona Mariquinha falou sem parar, falando o quanto foi uma boa católica, o que fez e Deus não atendeu suas orações de proteção e livramento durante a enchente.
- Mas eu te atendi, Mariquinha! Eu mandei seu marido ir te buscar no quarto, mas você não quis ir. Enviei uma canoa para te levar para fora daquela enchente, mas você não quis ir. Desviei um helicóptero de sua trajetória para ir te resgatar, mas você acabou fazendo uma confusão e não quis ir. O que mais você queria que eu fizesse para te proteger e te livrar daquela situação?
*********************************************************
Eu sempre conto essa estória, aprendida há muitos anos e todo modificada pelo tempo, aos meus alunos do Noturno, quando começam a dizer: "Se Deus quiser, eu aprendo." "Se Deus quiser eu vou passar de ano." "Se for a vontade de Deus..."
Muitas vezes, Deus quer, mas é necessários que nós façamos a nossa parte.