Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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sexta-feira, 23 de março de 2007

A alegria por um tênis e a consequência de um "Oi!"

Sabe quando uma coisa tinha porque tinha que ser sua? Esse tênis ai da foto tinha que ser meu!
Eu adotei tênis prá trabalhar não só por eu ser professora como também porque o acesso a escola ruim, com ladeiras, trechos de barro e de esgoto correndo pela rua abaixo. Entre os tênis, escolhi o All Star por não ter jeito de tênis de malhação e ser estilosinho, meio indie, meio emo. (hehehe) Claro que tenho o óbvio All Star preto, mas tava era afim de um tênis diferente. Só que esses tais mais estilosos são difíceis de achar e caros prá chuchu...
Eis que vi numa vitrine vejo esse tênis ai! E custava um pouquinho menos que o valor de All Star simples/comum!! Só que era uma vitrine de loja de calçados infantil, por isso toda sem graça dei uma olhadinha pra dentro da loja e perguntei desesperançosa:
-Esse tênis ai tem até que número?
-Só tem esse número aí.- por isso tava com aquele valor.
-Aaah! - já pensando que devia no máximo ser número 36...
- Infelizmente só tem esse número 38...
- É meu número! - gritei.
Saí da loja com um sorrisão escancarado.
Infelizmente esse post não é sobre meu tênis novo... Essa história toda foi prá que vocês percebessem que eu tava muito feliz de estar com meu tênisão estiloso e louca prá mostrar a meus alunos, quando aconteceu o seguinte:
No bairro que eu trabalho é comum pelas ruas perto das (2) escolas que trabalho as pessoas me cumprimentarem, mesmo as que nunca vi na vida! Por isso é um tal de: "Oi, pró Vanessa!" "Boa tarde, pró!" Ou simplesmente: "Próóóóóóóóóóóóóó!!!"
É, por aqui, professora é "pró", não é "tia". E, claro, eu retribuo o cumprimento ou o aceno!
Pois estava eu felizona inaugurando meu tênis ai de cima, indo prá escola, quando ouvi uma buzinada vinda de um carro meio que caindo aos pedaços, seguido por um "Oi!" do motorista que nunca tinha visto antes. Como faço comumente, respondi educadamente com outro "Oi!" e segui meu caminho.
Outra buzinada. "Ei, gostosa! Vamos dar um passeio!" Como é que é? Ele me chamou do que? Surpreendida balancei a cabeça e segui andando séria.
Outra buzinada. "Cê tá ocupada, né mainha? Qual é o seu telefone?" Olhei com cara de braba e disse: "NÃO!"
Ai, veio a resposta: "Se não queria trepar comigo, então por que veio mostrando a dentadura e respondeu meu oi?"
Eu pensei em despejar nele todo meu repertório de xingamentos, depois de mandá-lo pro devido lugar... Porém do outro lado da rua ouvi um: "Prózinha!". Eram dois alunos meus, acompanhados pelas respectivas mães.
Por isso me contive e só disse de modo rispído, porém em tom baixo:
- Eu tava rindo era do seu carro caindo aos pedaços e respondi porque sou educada!
Eu sei que não respondi a altura ou que não era nem prá dar uma resposta, mas essas coisas acontecem tão repentinamente que nem dá prá pensar muito no que fazer!!! Só sei que na hora, o tênis perdeu toda a graça...

segunda-feira, 19 de março de 2007

A beleza de Elisabeth

Haviam várias versões do motivo pelo qual a bela Elisabeth recusava os vários pedidos de casamento. Diziam que havia feito uma promessa que caso sua mãe se curasse de uma séria doença, se manteria casta. Outros diziam que estava prometida a um primo que morava num reino próximo mas que em breve chegaria para desposá-la. Havia ainda a versão de que estava destinada a seguir a vida religiosa, entre outras histórias. Estas nada mais eram que vãs tentativas de entender por que afinal, a mais bela entre as jovens do Reino permanecia solteira, a despeito de tantas propostas recebidas.
Seus pais, apesar de se sentirem tentados por várias daquelas propostas, não admitiam que Elisabeth se casasse com quem não quisesse. Por isso, apoiavam a filha a cada recusa. No fundo, eles sabiam que o motivo estava nas tardes que a filha passava com sua prima Frida, passeando sozinhas pelos bosques e lagos que cercavam a pequena Vila. Frida, assim como sua prima, também já havia recusado pedidos de casamento.
Um dia de primavera chegou a notícia que o príncipe herdeiro Jonas percorria o Reino em busca de uma jovem pra ser sua consorte e que dentro de uma semana estaria na Vila. Todas as solteiras entraram em polvorosa! As costureiras se viram de repente abarrotadas de trabalho a fazer. As mães passavam os dias cuidando da beleza das filhas. Inclusive as chamadas bruxas foram requisitadas para arranjar formas de encantar e prender o coração do jovem Príncipe. Essa excitação estava em toda a Vila, exceto na casa de Elisabeth.
No dia da chegada do príncipe Jonas, todas as jovens desde de cedo se arrumaram e se posicionaram no melhor lugar possível da praça da Vila para receber e ser escolhida pelo Príncipe. Elisabeth e Frida a princípio não iam, mas a curiosidade de ver o Príncipe falou mais alto e Elisabeth resolveu ir, ao contrário de Frida. Como não pretendia conquistar o Príncipe, foi com suas vestes costumeiras e achou muito bonita a carruagem quando esta chegou na Praça. Porém, achou o Príncipe muito feio e baixinho. Ela não imaginava o quanto chamou a atenção de Jonas com sua pele naturalmente rosada, sua trança que repousava em um dos ombros e seu vestido simples, recatado, mas elegante. Seu modo de vestir contrastava com os penteados estrambólicos, os vestidos de cores fortes e grandes decotes e os rostos cheios de rouge que as outras jovens exibiam não só naquela Vila como em todos os lugares do Reino.
O Príncipe se informou se a jovem que tanto lhe agradou era solteira, quem era e onde morava. No fim da tarde, inesperadamente, Jonas apareceu na porta da casa de Elisabeth com toda a sua Comitiva Real. Para desespero de Elisabeth e de sua prima, o Príncipe não a pediu em casamento, apenas informou que dentro de duas semanas eles se casariam e ela teria que abandonar sua família pra viver com ele em seu castelo. Elisabeth tentou argumentar que com certeza havia outras jovens no Reino melhores que ela para ser sua consorte, porém Jonas estava por demais fascinado com sua beleza e ficou mais ainda vendo-a de perto. Por isso, não aceitou os argumento de Elisabeth. Ele já havia decidido e assim seria! Vencida, Elisabeth disse que o Príncipe podia vim buscá-la em duas semanas e caso ele ainda quisesse, ela se casaria com ele sem nenhuma resistência. Antes de ir embora, o Príncipe designou 10 soldados que ficariam do lado de fora da casa de Elisabeth de prontidão, que seguiriam Elisabeth em suas eventuais saídas, impedindo assim uma fuga.
Elisabeth caiu num choro convulsivo, abraçada a Frida. Não podia imaginar ter que abandonar as pessoas que mais amava, porém não poderia fugir da decisão do Príncipe. Os pais de Elisabeth inicialmente acharam uma honra o Príncipe querer se casar com sua filha, porém não aguentaram ver o sofrimento de Elisabeth e de Frida que agarradas uma a outra não paravam de chorar. Tarde da noite, depois de uma longa conversa à sós com seu marido, a mãe de Elisabeth expôs a filha e a sobrinha seu plano para que o Príncipe desistisse do casamento.
Na manhã seguinte, o pai de Elisabeth saiu a procura de grandes vasos de argila enquanto a mãe foi a feira local e ao bosque a procura de certas ervas e frutos de poder laxante. Durante as duas semanas Elisabeth só bebia água e a mistura feita pela mãe com aquelas ervas e frutos. O resultado daquela infusão, foi cuidadosamente colocado nos vasos arranjados pelo pai. Em poucos dias tufos de cabelo caiam, mas logo eram amarrados nas alças dos vasos.
Depois de duas semanas, uma Comitiva Real maior que a anterior se posicionou do lado de fora da casa de Elisabeth. o Príncipe ficou sabendo que durante todo o período a noiva não havia saido de casa. Pessoalmente desceu da carruagem e bateu na porta da casa, sob o olhar curioso da Comitiva e da população da Vila. Assim que a porta foi aberta pela mãe de Elisabeth, um cheio forte e nauseante saiu da casa. Jonas logo exigiu que a noiva se apresentasse. Amparada por Frida e pela mãe saiu da casa uma mulher muitíssimo magra, com alguns tufos de cabelo desgrenhado na cabeça, sem alguns dentes, pele descamando e esverdeada, rosto marcado por rugas. Com dificuldade o povo da Vila e o Príncipe reconheceram naquela figura Elisabeth. Sem ainda se refazer do susto, o Príncipe exigiu explicações de como uma jovem tão bela ficou daquela forma.
- O senhor quer saber onde está a minha beleza, Alteza? - falou Elisabeth com um fio de voz e um sorriso no rosto.
- Eu exijo!
Elisabeth fez um sinal ao pai que ao poucos retirou da casa os cinco potes de barro, com cabelo amarrado nas alças e cheios de um líquido marrom-esverdeado.
-Ai, nesses potes, está a minha beleza! Esse é o meu presente de nosso casamento.
Enojado, o Príncipe subiu novamente na sua carruagem e sem palavra foi embora pra nunca mais retornar.

terça-feira, 13 de março de 2007

A barata da vizinha.


"Toda vez que eu chego em casa
a barata da vizinha está na minha cama"
Só Prá Contrariar

BLIM BLOM... BLIM BLOM... Susto! Com o coração acelerado, olho o relógio na cabeceira: 2:16. O que será que aconteceu? BLIM BLOM...

Como coração ainda aos pulos me dirijo a porta. Olho no olho mágico e vejo minha vizinha do apartamento ao lado, cabelo desgrenhado, camisolão, e a filha de cerca de dez anos com uma vassoura na mão. Abro a porta ou não abro?

BLIM BLOM... Abri.

- Oh vizinha, me perdoe te acordar a essa hora! Mas eu não pude evitar! Há mais de uma hora que a gente tá tentando matar uma barata horrorosa, enorme, nojenta. Só que ela conseguiu fugir e passou por baixo da sua porta.

- Minha porta, vizinha? - Assim como ela não sabia meu nome, eu não sabia o dela.

- É sim! A Sônia tava correndo pra matá-la, ela passou por debaixo de minha porta. Quando eu abri a porta, já havia passado por baixo da sua.

- Nossa! E isso foi agora?

- Faz uns cinco minutinhos já! Eu não bati logo aí por causa do horário, você devia tá dormindo e eu ia te acordar. Mas só de pensar no perigo que você tava correndo com um monstro desses na sua casa...

Tive que me segurar pra não dizer que não era pra ela me acordar mesmo! Onde já se viu? Mais de duas horas da madrugada e buzinam na minha porta por causa de uma barata. Mas preferi dizer:

-Mas vizinha... Se já fazem cinco minutos, como eu conseguirei encontrar a barata de novo? A barata pode estar em qualquer lugar! Mas não tem problema! Aqui em casa tem várias daquelas iscas pra baratas.

- Isso é um absurdo! Um condomínio tão caro e a gente tem que conviver com esses monstros! Em vez de detetizarem direito esse prédio, expulsar de vez esses seres repulsivos!

-Mas não adianta o condomínio e alguns apartamentos fazerem a detetização se os outros...

O gato passou entre minhas pernas e quando olhei pra ele, vi na parede o tal monstro. Nem era tão grande assim! Como eu não mato baratas na base da chinelada, pois esbagaça toda e espalha aquela gosma amarela, disse -A barata!!!-e sai correndo até a área de serviço pra pegar o detetizador.

Na volta não havia mais ninguém, só a barata continuava no mesmo lugar. Joguei o veneno na barata, que saiu andando um pouco e eu atrás dela apertando o detetizador. Percebi que a porta da vizinha continuava aberta com as luzes acesas.

Enquanto esperava a barata virar de costas, ficando com as patas pra cima, pensava o que tinha acontecido com a vizinha. O gato em cima na cadeira me olhava com cara de interrogação. Quis ir lá chamar a vizinha, mas aí eu podia perder a cena da barata se virando, que eu nunca tinha presenciado. Com um olho na barata e outro na porta ao lado, não me aguentei! Cheguei na porta e chamei:

-Vizinha. Ô, vizinha...

Nada! Parecia que o apartamento tava vazio. Resolvi buzinar. PRIIIIIIII... A porta da suíte abriu e o vizinho apareceu com o rosto inchado de sono. Ele olhou surpreendido a fato da porta já estar aberta e as luzes acesas. Eu perguntei pela vizinha e ele percebeu que ela não estava. Eu contei o que aconteceu.

- Bem que eu tava ouvindo uns barulhos, mas achei que eram do meu sonho mesmo! Sabe, Dilza morre de medo de baratas. Tem verdadeiro pavor! Quando ela tava grávida de Sônia, quase teve um aborto espontâneo por causa de duas baratas. Ela morre de medo! - disse o vizinho rindo, que eu ainda não sabia o nome, ao contrário da vizinha que agora eu sabia se chamar Dilza.

Fui olhar a barata e ela já havia virado. Puxa! Perdi mais uma vez! Pedi licença pra o vizinho e fui buscar a pá de lixo. O vizinho disse que ia ficar lá na porta esperando pra ver se a esposa e a filha apareciam. Eu, curiosa que sou, deixei minha porta aberta também.

Já estava recolhendo os restos mortais da barata, quando Dilza e Sônia reapareceram. Assim que Dilza viu a barata morta na pázinha, deu um grito e se escondeu atrás do marido.

- Calma, ela já está morta! Mas onde você estava? - perguntou o marido.

-A barata tava na casa da vizinha. Quando ela viu ela correu. Você acha que era eu quem ia ficar aqui pra enfrentar a monstrenga? Eu corri pra escada e Sônia veio atrás de mim!

-Mas não é justamente a escada que tá cheia de baratas? - observei.

Filha e mãe deram um gritinho e saíram correndo... pra dentro da casa delas mesmo! Rindo, eu e o vizinho nos despedimos e ficou eu com a barata na pázinha e o gato me olhando ainda com cara de interrogação.

domingo, 11 de março de 2007

Lasanha na China!!!


Fuçando uns blogs, encontrei um http://oimeadd.blogspot.com/ com link pra testar se o blog passaria pela censura a Internet da China (http://www.greatfirewallofchina.org/). E olhem, só! Meu blog pode ser visto na China!!!!
Fiquei tão feliz!!! Dá até pra visualizar como seria visto por lá.
Tudo bem que bloquearam minha fotinha, mas até é bom mesmo! Com a falta de mulher que tem por lá (devido a política do filho único) verem a minhas estonteante beleza sino-italiana (kkkkkkk) pode causar estragos nos homônios masculinos!
Ai! Agora bem que eu queria ter contato com meus primos lá na China só pra eu mandar meu link!!! Porém não faço a menor idéia de quem eles são e eles não sabem quem sou eu...
Gente, eu prometo que em breve as minhas abobrinhas só se resumirão as histórias... kkkkk

Sem personagens dessa vez... apresento-lhes Vanessa, ou seja, EU!


Nessa vida nada se cria, tudo se copia. Não sei de quem é essa frase, mas seguindo o espírito da frase, copiei aqui e pronto! Numa chupação explicita do post do "Blá-Bláismo" (link ai do lado), que por sua vez chupou do blog "Falta Criatividade", resolvi através de algumas perguntinhas falar um pouquinho de mim.

Nome: Vanessa. Minha mãe não sabe explicar como escolheu esse nome. Deve ter sido de alguma personagem de novela da época, pois conheci váááárias Vanessas e Wanessas na mesma faixa etária que eu. Inclusive uma prima de segundo grau que é mais nova que eu uns 2 ou 3 ou 4 ou 5 ( ou até 6 ou mais, mas nascida no mesmo ano) meses mais nova que eu. Vanessa é o nome de um “gênero de lindas borboletas”. Talvez isso explique porque as vezes sou tão “avoada”!

Moro: Em Salvador, Bahia. Mas não a Salvador dos sonhos dos turistas de praia, axé e pagode. A Salvador que vivo é a real, a que os turistas não têm acesso. Nesses últimos 4 anos que realmente comecei a conhecer a cidade, não só sob o ponto de vista geográfico. Amo minha cidade e cada vez mais à medida que a conheço e entendo. Eu já pensei em morar fora até do país e pode ser que um dia eu vá. Mas vou sabendo que é aqui meu lugar, pois eu estou dentro da cidade e a cidade está dentro de mim.

Estado físico: Nem alta, nem baixa. 15 quilos acima do que seria meu peso ideal, segundo uma endocrinologista com quem me consultei. Ai, abafa o caso!

Estado mental: Teoricamente eu estou com minhas funções cognitivas em ordem, pelo menos é isso que eu acho! Hihihi Mas meu estado mental vive uma relação de amor e ódio com meu estado emocional. E nessa guerra, é sempre ele quem sai perdendo.

Estado emocional: Comanda todos os outros estados do meu corpo e espírito. Sou passional: Quando amo, amo MESMO. Quando odeio, odeio com todas as forças. Quando meu emocional fala alto, todo o resto se cala e isso é muito horroroso pra mim!

Desejos: Ser cada vez uma professora melhor e dar cada vez mais aulas estimulantes pra meus alunos, emagrecer, ter um carro, viajar cada vez mais, ter sempre meus amigos bem e perto de mim e arranjar alguém que eu possa repousar meu amor. Não necessariamente nessa ordem.

Tentações: Basicamente são culinárias. Mas andei sendo tentada pelo meu coração e só me estrepei.

Eu gosto de: Sair e me divertir com meus amigos, ouvir meus cds, arranjar tempo pra ler mais livros que não tenham haver com minhas monografia ou meu trabalho, de ser bem tratada ...

Eu queria que: Meus desejos se realizassem!

terça-feira, 6 de março de 2007

O samba de Adelaide

ADELAIDE
(China - Mombojó)
O que eu entendo por ser meu
É tudo que eu posso te dar
O meu amor mas primeiro eu
Preciso saber se você vai gostar
Deixa o meu sentimento te falar
Vou mostrar que sou alguém melhor
Não vai se arrepender
Porque eu não vou deixar você chorar por mim
Se olhou no espelho e achou graça do que viu. A maquiagem dos olhos já havia parado no queixo, mas tudo bem! Pegou um pedaço de papel higiênico, molhou um pouco e tentou diminuir aquela borração de lápis de olho e sombra que lhe dava uma olheira imensa. Como se não ter dormido direito já não lhe desse uma expressão maravilhosamente cansada...
Molhou o pente que encontrou e tentou dar um aspecto mais apresentavel a seus cabelos. Por fim, acabou amarrando num rabo de cavalo usando uma providencial xuxinha preta que sempre trazia no pulso esquerdo, embaixo do relógio. Passou o brilho labial e saiu do banheiro.
Notou que apesar de não ter ficado nem 15 minutos no banheiro, o dia já estava mais claro. Olhou o relógio, eram 5:57. Em breve a rua despertaria também, se enchendo de crianças fardadas e pessoas apressadas indo ao trabalho ainda bocejando. Mas o que importava a Adelaide era que os ônibus retornavam a rodar com mais frequência apartir daquele horário.
Se dirigiu ao sofá de dois lugares onde havia tirado um breve cochilo e dobrou o lençol fino que haviam lhe dado pra que se cobrisse. Pôs em cima da almofada que fez as vezes de travesseiro. No chão, no outro sofá e na rede amigas e amigos, de tantas festas, como a da noite anterior, ainda adormecidos.
Seu olhar, no entanto, se fixou em apenas um dos corpos. Apenas de calça, com a carteira e a camisa dobrada em cima do tênis ao lado do colchonete. Ele dormia com a boca entreaberta e de forma tão profunda e despreocupada que mais parecia uma criança. Quis acariciar suas costas. Desejou lhe fazer um cafuné. Porém, não pôde. Só podia abraça-lo com o olhar. Por isso a necessidade de fugir. Precisava sair dali o quanto antes.
Quando se encontravam, ela representava a sua farsa que ele era apenas um amigo, mas seu coração mendigava uns momentos com ele. Nas breves vezes que ficavam juntos, tentava sugar cada segundo, aproveitar cada beijo, cada olhar. Abraçava tão forte para poder de alguma forma capturar aquela sensação em seu corpo. Porém, depois, eram só amigos. E ela voltava a sua farsa. Porém ali, com todos dormindo, era difícil continuar a fingir. Ainda mais que na noite anterior teve que segurar as lágrimas a base de roscas, ao vê-lo beijando outra garota. Ela sentia suas emoções a flor da pele. Felizmente confundiram seu azedume com bebedeira.
Calçou as sandálias, colocou os brincos e anéis. Pegou a bolsa e mais uma vez olhou para ele. E durante dois minutos não desviou o olhar. Queria ter o poder de arrancar com as mãos a tristeza e sofrimento que sabia habitar naquele corpo, naquela alma. Desejava profundamente protegê-lo em seus braços. Porém, respirou fundo e se dirigiu a porta. Já do lado de fora, mais uma vez olhou-o e finalmente puxou a porta, fechado-a definitivamente.
Olhou fixamente pra o reflexo dos olhos no espelho do elevador. Seu coração estava apertado. Porém, o dia estava nascendo e a vida continua! E com esse espiríto que saiu do prédio com o barulho do salto recoando pelo pavimento.
Olhou pra os dois lados, decidindo-se para onde iria. Um taxi passou vagarosamente ao seu lado e sem planejar, fez sinal. Indicou o seu destino e afundou no banco traseiro do Gol. Sentiu um grande alívio em se distanciar daquela prédio, daquele bairro, daquilo que fazia ela sofrer e se sentir uma idiota.
Felizmente havia seu trabalho com a mesa cheia de providências a tomar. Felizmente havia seu curso de inglês com todas as suas dificuldades de pronúncia. Felizmente havia seus três cachorros que requeriam sua atenção e seus passeios.
Felizmente havia a sua vida pra lhe ocupar a mente e o corpo! E isso lhe aliviava um pouco o coração...