Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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sábado, 12 de julho de 2008

Questão de roupa.

Sexta-feira, meu último dia útil do recesso junino, fui correr atrás do prejuízo. Ou seja, fazer todas aquelas coisa chatas proteladas prá o recesso, mas que eu ainda não havia feito. Eram 10 h e eu já estava resolvendo meu segundo compromisso em um banco.

Estava na fila, lendo uma revista do mês anterior que eu ainda não havia lido, quando ouvir uma cantoria/ meio mantra de: "Mmmmm mmmmmmmmm". Eu nem tenho meios, ou saberia reproduzir aqui o som, mas era bem alto. Claro que olhei prá onde vinha aquele som e mal puder crer no que vi.

Um homem de cerca de 50 anos, alto (uns 1,85m), super-bronzeado, forte (no sentido de musculoso), ombros largos, meio calvo, fisionomia séria, vestindo uma saia curta de tactel verde e uma blusinha de alcinha abóbora, além de piercings e pulseiras. A imagem era meio contrastante! Porque o porte físico, o rosto e o andar são bem másculos, mas a roupa era bem de... piriguete! E prá completar, ouço um "Bom dia, Doutor!" prá ele. Quer por sua vez respondeu e continuou no seu "mmmmm mmmmmmmmm".

Nessas horas que a gente se conhece! Eu, uma pessoa que pesquisa sobre a intolerância às individualidades (em ambientes escolares), não conseguia parar de olhar prá o cara. Sentia um grande estranhamento e me perguntava: "Como ele tem coragem de vim assim?" Porque a saia era realmente muuuuito curta. É, Vanessa... casa de ferreiro, espeto de pau!!!

Se percebia que o homem na frente dele na fila, estava com uma expressão de desconforto. Não sei se por causa da cantoria, se por causa das roupas ou se pelos dois. Todos olhavam de canto de olho, mas as mulheres disfarçavam menos.

Bem, saí apressada prá cumprir com meus outros afazeres. Como estava com pressa, peguei um táxi no super-mercado ao lado do banco. Quando estávamos saindo do estacionamento do mercado, o cara ainda no seu "mmmmm" atravessou a rua. Acabei soltando um:

- Que figura!

- É uma figura mesmo! Todo mundo aqui conhece ele. - respondeu o taxista.

- É? Então ele mora aqui perto...

- Sim, ele mora num casarão na rua de trás. Contando ninguém acredita: ele era um advogado e só andava engravatado. Até que apareceu assim! Só anda agora com essas roupinhas.

- Ah! Então nem sempre ele se vestiu assim?

- Nãããão! Não tô te dizendo? Ele só andava engravatado e com uma pasta. Pareceu que se aposentou e começou a se vestir assim.

- Foi de repente? - Curiosidade MODE:ON

- Bem, quando eu vi, já tava vestindo assim. Ele costuma correr de manhã com uma canga e com um pastor alemão do lado.

- Mas ele não aparentava ser homossexual, não?

- Olhe moça, se for julgar só o comportamento dele, até hoje não parece. Porque ele não fica dando escândalo, não fica se requebrando, não fica dando em cima de homens. A voz dele é grossa, precisava da senhora ver! É só a roupa mesmo!

- Vai ver então que ele sempre sentiu vontade de se vestir assim, mas se reprimia por causa do emprego, da sociedade. Quando se aposentou, resolveu assumir.
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- Já acho estranho um homem daquela idade começar a se vestir de mulher, imagine se vestir com aquelas saias curtas! Esse mundo tá é ficando estranho demais!
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Esse fato já aconteceu à mais de uma semana. Já contei o ocorrido a algumas pessoas e quase todas já o viram correndo com a canga, o que lhes chamaram atenção. E ouvi mais histórias sobre o cara, todas falando que ouviram falar que ele andava engravatado e agora ele anda vestido de mulher. Mas parece que, fora as roupas, nada mais mudou! Pelo menos exteriormente.
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Fico imaginando o trabalho pessoal que ele teve que fazer para assumir essa vontade. Porque não deve ser fácil virar uma alvo tão fácil das outras pessoas. Ele é um homem de muita coragem de ter enfrentado essa situação.
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Como diz aquela música de Pitty: "O importante é ser você, mesmo que seja estranho. Seja você! Mesmo que seja bizarro."

9 comentários:

Euzer Lopes disse...

A verdade é que quando encontramos alguém que foge do que chamamos de padrão, o estranhamento é a primeira das atitudes. A segunda é o prejulgamento.
E uma terceira atitude é ficar imaginando o que leva uma pessoa tida "séria" a agir desta maneira que, como você citou no trecho da música da Pitty, beira o bizarro.
É normal agirmos assim: temos uma grande curiosidade em saber tudo sobre tudo o que acontece num mundo que não é o nosso e que cruza o nosso caminho.

(6) capreta disse...

O engraçado não foi a roupa! De traveco pelas ruas todo mundo ta cansado de ver! O que era esse Hmmmm hmmmmmm! O cara bateu a cabeça, tá lelé e ninguem sabe! HAHAHAHHA!

Abraço
http://capreta.blogspot.com

Levy Lopes Furtado disse...

Qualquer um no Brasil que fugir aos padrões é visto dessa maneira. É da condição do brasileiro, um conservador nato que tem vontade de parecer liberal.
Parabéns pelo blog.

Carlos: disse...

Estranho.....hummmmmmm

Grupo Saber Viver disse...

Uma das maiores dificuldas em viver em sociedade é respeitar e aceitar a alteridade, o outro como ele é!
http://gruposaberviver.blogspot.com/

Celly Vieira disse...

Gostei do blog, muito bom... C puder passa em casa
http://abelezadaarte.blogspot.com/
Valeu... Abraços...

Carla M. disse...

Eu desconfio que o dito senhor até se diverti com a reação das pessoas.

tenho amigos muito estranhos e eles sempre se divertem.

Saturno disse...

Oi Vanessa! Deixa eu te perguntar uma coisa. Já conseguiu uma cópia do CD do Robô Gigante?
Se não, me escreva.
Abraços
Fabio Cobiaco

Jeffmanji disse...

Muito apoiado, amiga Venessa!
Esse negócio de padrão é para aqueles que se julgam "normais". Pé no saco deles e vamo que vamo!