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quarta-feira, 6 de junho de 2007

O poder da chuva

Claudia era o que se podia chamar de boa moça. Completou o segundo grau no período esperado. Nunca foi exatamente uma CDF, mas se esforçava prá passar de ano. Apenas duas vezes ficou de recuperação, de matemática e física respectivamente, o que a envergonhou mortalmente. Recebeu o certificado de conclusão sem conhecer o que era levar advertência ou suspensão. Muito menos sabia o que era inventar falsas desculpas para fugir das aulas de Educação Física ou filar aula só prá se livrar de alguma aula chata . Provavelmente seus colegas não se lembram mais do seu nome, só têm a vaga lembrança de uma garota tímida, de poucos amigos e que tinha uma mochila cinza.
Ainda no segundo ano arranjou emprego de meio turno numa loja de bijouterias. Não era uma boa vendedora, pois se envergonhava de exibir as peças às clientes ou enchê-las de falsos adjetivos. Porém, por ser honesta foi transeferida prá o caixa. Finalmente a dona da loja pôde aliviada se ausentar algumas vezes no turno vespertino, o de Claudia. Passava a tarde entre notas de compras, cobrando o valor e anotando as comissões das outras vendedoras.
Nunca teve exatamente amigas e sim colegas de escola ou de trabalho e vizinhas. Saia às vezes para o shopping ou cinema com elas, mas nunca conseguiu estabelecer uma relação verdadeira de afinidade. Não que as colegas a rejeitassem, mas o motivo era a irremediável timidez e economia de palavras e risos que Claudia não conseguia vencer. Resultado, nunca havia sido beijada.
Àos 21 anos, a vida de Claudia costumava ser bem CINZA!
Mas não era sempre, pois mesmo naquela cidade de clima seco e quente as vezes acontecia de chover!
Quando chovia uma estranha força se apoderava dela. Aquele som das gotas caindo já a despertava! Enquanto outras pessoas pareciam importunadas, Claudia se sentia como uma criança que ganhou um doce. Não saberia se justificar!
Ela não se lembrava, mas de alguma forma estava registrado em seu sub-consciente a fala de uma personagem de um filme que assistiu quando tinha seis anos, que dizia que a chuva era uma Benção de Deus prá todos nós aqui na Terra. Desde esse longíquo dia, passou à gostar dos dias de chuva.
Só ao saber que uma frente fria se aproximava, seu coração já se acelerava! Vendo o céu de azul se cobrir de nuvens e ir ficando cinza já era um espetáculo para seus olhos. Mal podia esperar prá ver aquelas gotinhas se precipitando do céu. Nas manhãs chuvosas, tomava banho cantando e com alegria saia prá rua com seu guarda-chuva azul, sem se incomodar com as poças de água. Sua atenção se voltava prá aquele sonzinho e a imagem das gramas do caminho ficarem molhadinhas, molhadinhas.
Já se a chuva fosse no momento do retorno prá casa, não abria o guarda-chuva, se deliciando com o banho de chuva. Considerava que aquele banho não era só bom pro corpo, mas principalmente prá alma e pros pensamentos. Era como se fizesse uma limpeza interna, eliminando toda a energia negativa que tinha acumulada. Seguia sem pressa, aproveitando aquele momento sem se importar se a roupa molhada estava transparente ou colada ao corpo. Seguia com um imenso sorriso no rosto e achava graça das pessoas indicarem um local prá ela se abrigar ou um olhar de desaprovação prá seu estado.
O ápice daquele prazer que sentia nos dias de chuva havia acontecido certa feita em que a mãe pediu que fosse com seu carro levar uma encomenda à um bairro relativamente distante. Aquela tarefa que em princípio lhe pareceu tão chata começou a se tornar boa quando no retorno prá casa começou a chover.
Como estava sozinha no carro, começou a fazer um caminho longo prá casa, retardando sua chegada. E achava lindo aquelas poças pertos dos acostamentos! Dava uma vontade de passar por cima sem diminuir a velocidade, levantando assim àgua inclusive prá cima das calçadas e pessoas que nelas estavam... À princípio de conteve, pois sabia que não era certo molhar as pessoas, até que foi irresistível e quando passou na frente de um ponto de ônibus, passou de forma que todas as pessoas ficaram molhadas. Fez mais uma vez. E outra. E outras, até chegar em casa em pleno êxtase!

7 comentários:

Anônimo disse...

simplesmente lindo!
AMEI seu texto, assim como o blog inteiro!
bjos

Anônimo disse...

Já na metade do texto pensei em postar logo o comentário, porque parte de crônica me fez pensar que esse momento urbano de adorar aquilo que com certeza na mesma hora outros estavam rejeitando...!
Simbolizado pela chuva esse sentimento parado e motivador de tristeza, que a solidão verdadeira consegue explicar!!
Em parte participei desse momento...!
Bom texto!
abraços!

Anônimo disse...

Ah, chuva. Parece utopia querer que ela lave a alma, mas há de lavar, e de levar tudo o que de ruim rodear-nos.
Beijão

Anônimo disse...

Legal, mas eu não li tudo não!

Anônimo disse...

texto bacana!

Anônimo disse...

Primeiamente,obrigado pelo seu comentario.

e concordo com vc..assunto aborto,é sempre um campo minado !

tanto é...que fui até "ameaçado"..refiro isso no meu novo post...

enfim...

não tinha visto seu blog ainda,é muito bacana =] Parabéns !


Abraço,e boa semana=D

Anne disse...

Que moça malvada!!! rsrsrsrsr Adorei o final. A história começou densa, mas o final foi leve e surpreendente. :)