-Eu caí! Tô toda ralada! – alguém atrás de mim gritou.
Estava no banheiro de um shopping, lavando as mãos, quando ouvi o lamento choroso. Olhei em direção da voz. Aparentava ter uns 25 anos e estava com dois meninos, aparentando respectivamente 1 e 2 anos. Estava com uma das pernas da calça de strecht puxada até acima do joelho sangrando, que tentava lavar com as mãos em conchinha. Percebi que um dos seus braços também estava ferido.
-Olha só prá isso! Oh, moça, me ajude!
-Nossa! Como foi isso? – uma senhora, mais solícita que eu, aproximou-se.
- Esses meninos, moça... Eu tava subindo a escada rolante segurando a mão do Pequeno, quando vi que o Maior havia ficado prá trás. Corri na escada e peguei o menino, mas ai eu vi que o Pequeno ficou sozinho, quando corri prá pegar, eu cai. Nem sei como foi! Quando vi, tava no chão com os degraus da escada raspando meu joelho.
-E os meninos? – perguntava a senhora procurando band-aid na bolsa.
Resolvi também ajudar e passei a procurar curativos também na minha bolsa.
- A sorte foi que um senhor pegou os meninos e me ajudou a levantar.
- Nenhum segurança viu? – perguntei.
-Acho que não. Senti tanta vergonha!
Estávamos tão concentradas ouvindo e procurando curativos que, pelo menos eu, já havia até esquecido que os meninos estavam lá. Quando ouvi a voz de outra mulher:
-De quem é esse menino que está escalando a pia? Olhem seus filhos!
Era o Maior que estava já praticamente em cima da pia. A mãe correu para pegá-lo, mas logo percebeu que o Pequeno não estava por perto. Ela largou o menino e saiu do banheiro gritando:
-Meu bebê! Meu Pequeno sumiu! Meu filhooooo...
O Maior bem que quis correr atrás da mãe, mas a senhora que estava ajudando a moça anteriormente o segurou.
-Esse menino vai acabar se perdendo também. É melhor segura-lo, que ela não aparenta estar muito bem, não.
Do banheiro se ouvia a gritaria da mulher do lado de fora.
Deu-me um clique e procurei o Pequeno dentro das cabines do sanitário. Dito e certo! No terceiro encontrei-o com a mãozinha mexendo na água do vaso. Levei-o pela (outra) mão para a parte das pias onde estava o Maior.
E ficamos eu e a senhora com o Maior e o Pequeno, pensando no que fazer.
Entrou a mãe acompanhada de um segurança e uma funcionária que aparentava ser da limpeza.
- Eles estão aqui! –a mãe gritou. – O meu Deus! Eu estou passando por tratamento de depressão, minha mãe está internada, o pai das crianças...
- Se acalme senhora! – falou o segurança. – Agora vamos lá na enfermaria.
A funcionária de uma vez só pegou cada menino num braço.
-Deixa que eu levo essas crianças para que a senhora não perder esses meninos de novo.
E assim saíram do banheiro.