Pisando aqui e acolá. É assim que se anda pelas ruas de Salvador quando se está chovendo: desviando das poças de água e da água jogava prá calçada pelos carros. E quando se tratava de chuva e poça de água, o Cabula é generoso.
Para a água que vem do céu, guarda-chuva, ou sombrinha de corações coloridos como era o caso. E prá a água que vem de baixo e dos lados? Nem adianta calça ou tênis, pois é pedir prá ficar com a roupa ou o sapato molhado, o que é ótimo prá pegar uma gripe daqueles que te derrubam uma semana! Além disso, não estava frio, muito pelo contrário! Aquela chuva até que era bem vinda prá acabar com o mormaço que amolece até as mais resistentes das criaturas.
Pisando aqui e acolá, aqui e acolá, aqui e acolá. Tentando molhar o mínimo possível dos pés na havaiana branca. “Por que eu não vim com outro chinelo? Dá mó trabalho de lavar essa, ô cabeça!”
Entrou, ainda de sombrinha aberta sobre a cabeça, no açougue. Quase acertou a testa de uma garota que estava no meio da entrada.
-Oh, desculpa aê!
Mas queria ter dito: “Isso lá é lugar de ficar? Saia do meio do caminho, mulher!” As pessoas se ocupam dos espaços como se fossem os donos. E você que tem que desviar das majestades, caso contrário tem briga.
Martina quis xingar, afinal respingou umas gotas da chuva em seu cabelo. Quis mandar o cara olhar por onde andava. Podia ter acertado o olho dela! E aí? Ia pagar o tratamento? Mas ela não estava em seu bairro. As coisas andam num rumo que quando pisam no seu pé, você ainda tem que pedir perdão. Educação virou um caso de sobrevivência!
- Foi nada, não. – tentou falar no tom mais simpático possível.
Ramon nem a ouviu. Seguiu prá o balcão, já gritando pela Dona Zuza.
-O que é isso, menino? Ainda não to surda, não!
- Oh, tia. Me vê aê meio quilo de carne moída.
-De qual carne, menino?
- Ah, sei lá!
Como uma pessoa vai comprar uma coisa que não sabe? Martina virou-se prá dentro do açougue olhando prá o rapaz, que estava de costas prá ela, não acreditando.
- Minha mãe vai fazer quibe, tia. Então, é carne moída prá fazer quibe.
-Então, aprenda, menino: é patinho. Meio quilo, né? Espera que vou moer.
Enquanto esperava pela carne, Ramon assoviava a música que estava ouvindo a pouco em casa. Olhava a vitrine de carnes, mas pelo vidro percebeu que aquela garota que ele quase acertou com a sombrinha estava olhando prá ele. Certamente estava esperando a chuva passar. “Gostosinha! Cabelos lisos, meio bagunçados. Deve ser natural, já que não está reto feito uma parede, como fica o cabelo de minha mãe quando ela alisa.”
“Que menino mais doido! Olha a sombrinha de corações! Deve ter pegado a primeira que viu pela frente, sem se preocupar com o que os outros iam pensar. E nem sabia que carne era prá comprar. Agora, ta olhando as carnes como se fosse roupa. Menino sem-noção! Esse aí deve viver a vida sem que se preocupem com o que pensem dele.” Enquanto pensava, sorria.
Então, viu que o rapaz também sorria prá ela pelo vidro da vitrine das carnes. Virou-se prá a entrada do açougue bruscamente, de vergonha. “Ele viu que eu tava olhando prá ele.” Só então reparou que a chuva havia passado. Saiu quase que correndo.
Ramon se deliciou quando ao virar o vestido da garota deu uma leve levantada, revelando a lateral e a parte de trás da coxa esquerda. Inconscientemente virou-se na direção dela, pôde perceber pelo desenho da calcinha no vestido, que era pequena. “Safada! Pena que saiu correndo!”
(continua...)
11 comentários:
A história está ótima. Primeira e segunda parte bem escritas. Estou aguardando a continuação.
vlw>
http://escondidin.blogspot.com/
não descobri rápido não.rs... é que entrei na comunidade do orkut "comente no blog acima", e o de cima era o seu. rs....
Concidência.
Até mais>
Hummmm, a história realmente prende a gente e está ficando interessante. Acho até que a segunda parte dispensa a primeira. Seria mais instigante e estiloso se você já começasse a história assim, no meio do caminho, deixando a gente descobrir pelas circunstâncias quem são e onde estão os personagens. Além das indicações diretas, há os pensamentos de um sobre o outro, o que torna a coisa mais incerta e mais estimulante. Muitas vezes é bem mais legal dar a entender do que revelar, e por isso acredito que você poderia inclusive retirar os detalhes da primeira parte, retirá-la inteira. Deixar o texto como a calcinha da Martina: só a marca no vestido, e não a visão completa. :-) Beijos, parabéns e muito sucesso!!
Legal o texto... bem escrito e envolvente!!! Ficarei no aguardo da continuação.
Bjos
Olá, Va! To devendo uns comentários por aqui, né. MAs vc sabe como é dura a vida de blogueiro que sobrevive de postagem programada..
kkkkkk
Rapaz... se vc achar um santo do naipe daquela santa que tá laá no arroto, com certeza publicarei e colocarei mais dedicado a tu.
E quam não jogo joga da verdade já, né? Q coisa!
Bjo, menina! e vamo que vamo!
quero terminar de ler!
Hehe Esse episódio de açougue me lembrou que eu também n entendo nada de carne, e se me pedissem pra comprar sozinha, eu ia passar pela mesma situação do menino: "olhando pras carnes como se fosse roupa" :P~
Uma vez, meu namorado decidiu fazer o almoço. E eu tava DOIDA por uma carne bem bem bem salgadinha. Aí ele chegou com a bandeja do Bompreço, eu olhei assim..."PATINHO". e DISSE:
- Oh, amor, mas eu queria carne de boi!
O.o
JURO!!
:p~
bjosss
vim conhecer teu blog. Com certeza vou voltar.
Quero ver esse fim da historia.
Gostei daqui.
Maurizio
tô adorando a história!
:)
beijo Van!
Crõnica urbana, divertida e leve... não demore muito pra continuar!!!!
Pronto... tinha que ter uma sacanagem...eheheh
Talvez não tenha nada a ver, mas essa passagem: "Olhava a vitrine de carnes, mas pelo vidro percebeu que aquela garota que ele quase acertou com a sombrinha estava olhando prá ele.", é forte, hein?
É como se a menina fosse um pedaço de carne exposta na vitrine, pronta pra ser adquirida pelo rapaz.
Adorei!
Vamos pra parte III.
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