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sexta-feira, 13 de abril de 2007

O conto do desafio -> Roda-gigante

(Esse post é de 16/04/07. Dia 13/04/07 foi o dia que comecei a escrevê-lo!)
Há alguns posts atrás pedir que me mandassem palavras pra que eu inserisse num conto que eu viria a escrever. Pois bem, ai está o conto! Realmente as palavras propostas que me levaram a história. Espero que gostem!
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RODA-GIGANTE
Saiu andando pela rua que foi testemunha de sua infância e adolescência, tendo apenas o som do seu salto de seu sapato de couro de avestruz batendo no pavimento como companhia. Quando passava pelas casas, via luz acesa e sons de conversas ou da televisão. Reconheceu a voz de uma atriz famosa e percebeu que a novela das nove já havia começado.
Ainda não se sentia pronta pra regressar para casa. Sentia que antes necessitava de fazer uma espécie de higiene mental do jantar que havia acabado de participar. Seguiu até a Praça Belina. A medida que chegava, o movimento de pessoas aumentava. Se percebia que as jovens estavam vestindo sua melhor roupa, cabelos escovados ou com creme, saltos altos. Os rapazes também andavam em grupos, tênis novos. Além disso, senhoras sentadas em cadeiras do lado de fora de suas casas ou de amigas, observava o movimento. Haviam lhe falado que mais tarde haveria o show de uma banda de forró que estava fazendo algum sucesso, na Praça 8 de Março. Era festa da Santa Padroeira da cidade. Uma festa religiosa que havia se tornado profana, como todas as outras.
De longe se ouvia os gritos e risadas das crianças vindo do parque montado pra a festa. Barco viking, carrinho de bate-bate, tiro ao alvo era alguns dos brinquedos que estavam montados. Mas o brinquedo que lhe chamou atenção foi a roda-gigante montada no outro lado da praça. Lembrou-se de quando pela primeira vez esteve numa roda-gigante, naquela mesma praça, muitas festas da Padroeira atras. Não queria ficar andando a esmo, principalmente porque seu espírito não era exatamente de festa. Se dirigiu até a pequena construção de tábuas, que fazia as vezes de caixa e comprou 1 ingresso, dirigindo-se então a fila da roda-gigante.
Enquanto aguardava sua vez, percebeu que algumas pessoas a olhavam. Talvez fosse por causa da sua roupa: um tailer preto com sapatos altíssimos de couro de avestruz. Talvez porque vagamente a reconheciam.
Fechou os olhos quando o brinquedo começou a se mover e por um décimo de segundo sentiu-se novamente com seis anos. Abriu os olhos e a cidade se distaciava, ao mesmo tempo que se tornava bela. Do alto se via toda a cidade iluminada. Mas do alto é como se ela não estivesse lá e aquele local era apenas mais uma lembrança.
Pensou se engraçado como guardamos de forma meio dourada as boas lembranças da infância, como se nunca tivesse caido e ralado os joelhos. Não eram lembranças contínuas, eram flashs: a avó com um véu de renda rezando na igreja, os canários de tio Pacheco fazendo uma alegre algazarra no grande viveiro que ocupava mais da metade do quintal, o cheiro e o barulho da cebola fritando quando Dorinha fazia o detestado fígado acebolado, a farda da escola com a gola engomada com capricho pela mãe, o tique do avô de cofiar a farta barba nas mais diversas situações, o biscoito de goma feito pela avó com a parte de baixo ainda com resquícios de farinha de trigo, brincadeira na rua, o primeiro namoradinho e as poesias que fazia pensando nele...
Tudo aquilo passado naquela cidade em que a rodoviária só funcionava entre às 6 h e às 22 h.
Porém chegou o dia em que abriu as asas e foi fazer faculdade na capital, há 200 km. E esse dia aconteceu há 12 anos atrás. Os pais esperavam que a filha fizesse medicina e voltasse a sua cidade natal pra clinicar. Ela desistiu de medicina quando se deparou com a primeira aula de anatomia e acabou se formando em direito, não voltando mais a morar naquela pequena cidade.
Os pais nunca aceitaram... No fundo esperavam que essa história de faculdade fosse apenas um capricho e que logo a filha retornaria pra se casar e morar na casa que o pai planejava construir em cima da sua, ficando ali à dispor pra cuidar deles na velhice. Quando ela finalmente confirmou que não pretendia voltar àquela cidade, pois morar na capital seria melhor pra sua carreira, foi chamda pelo pai de narcisista.
Prá completar, ela havia se casado com um saxofonista que a conta bancária era inversamente proporcional ao talento, e olha que ele era considerado um dos melhores do estado... Ela não se incomodava em pagar todas as despesas de casa, pois o que importava era o grande companheiro atencioso, culto e bem-humorado que ele era. Principalmente era um pai excepicional, que conseguia suprir o tempo que muitas vezes ela não conseguia ter com sua filha, abarrotada de processos pra estudar. Mas nada disso importava aos pais dela, que o chamavam de "cafetão", o que a fazia pensar que a chamavam de prostituta.
Ela resentia de seu relacionameto com seus pais se dar de forma tão fria. Ela entendia que a melhor forma que teria pra cuidar deles quando estes necessitassem era lutando pra ter recursos pra isso, pra poder contratar ajuda especializada. Não que iria envia-lós a um asilo, pelo contrário, gostaria que eles fossem morar na capital numa casa junto a dela. Em sua mesa de trabalho, entre papéis, canetas, grapeador e porta-trecos, havia um porta-retrato com uma foto de quando tinha dez anos numa praia com os pais. As vezes olhava e seu coração doia de saudade.
Porém quando ia visitar os pais, como naquele dia, o clima não era ameno. Naquele jantar, sob o lombo assado que perfumava a sala, críticas ao marido que há muito havia desistido de ir ver os sogros, a filha que ela preferia deixar em casa com o pai pra não presenciar os avós criticando o pai e notícias enfeitadas das amigas de infância que haviam ficado na cidade, todas muito bem-casadas com "homens com futuro", cuidando dos filhos perto da família.
Depois dessas ocasiões, ela realmente precisava espairecer, pra não levar pra estrada em direção a sua casa a mágoa de os pais não entenderem as suas razões, apesar dela entender as deles. Porém, ela avaliava que seria infeliz se vivesse como eles desejam ao invés de fazer suas próprias escolhas. O preço que ela pagava por isso era dolorido, mas necessário, pois não podia deixar de vê-los.
E nesses pensamentos e lembranças se deixava levar pela roda-gigante, sentindo o vento frio no rosto e a vendo a cidade toda iluminada.
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Prá quem leu o conto, um prêmio!
Bem, eu enviei um tema à Wagner e agora tenho que fazer o mesmo desafio aqui... Sim, outro! Pois bem: Peço que àqueles que comentem aqui, sugiram um tema que poderei tratar sob forma de conto, poesia, ensaio, sei lá (decido conforme a inspiração e o tema)...
Prazo: 18 de abril, dia do aniversário de Monteiro Lobato.
Aaaaaaah! Por falar em aniversário, dia 17 de abril é o meu! Isto mesmo, estou fazendo 27 anos!!! Quer idade mais ROCK???

11 comentários:

Augusto disse...

oi

muito legal teu blog.

e te deseja saude e felicidade 12 minutos antes da meio noite :D

augusto
www.augusto2901.blogspt.com

Pk Ninguém disse...

Ficou interessante seu conto.

Que tal fazer um poema sobre a loucura?

Lalla disse...

Cara, eu me perguntei isso tb.
Mas notei que não sou cool, pelo menos não tenho uma atitude cool.
Ok, eu vejo Godard... mas depois vou ver Disney Chanel [tem cada programinha tão bacana]
E não fico me vangloriando de minhas sinapses
rs

Ah, vou confessar que eu fiquei com preguiça de ler esse post enorme!
Mas prometo que leio um outro dia
rs
A cabeça já não tá funcionando direito
=/

Quanto ao Monteiro Lobato, não sei, mas fala do livro "A Chave do Tamanho", ou algo relacionado... vc pode escrever folhas a respeito que eu lerei rindo
Me lembra coisas maravilhosas!

*muáh

Wagner disse...

eu gostaria que vc escrevesse algo sobre amor a distancia...

e aproveitando: longo texto, mas muito show de bola! nota 1000!

Rodrigo disse...

qual meu premio???

André Martins disse...

O seu conto me lembrou tanto os do Tennessee Williams (você conhece?). Sério mesmo, você deveria escrever livros e livros recheados de contos! Eu compraria!
hehehe

E o seu tema será: ferrovia

Vanessa Lee disse...

Tema de Rodrigo, do http://porqueagenteeassim.blogspot.com/


Bunda-molismo brasileiro.

Guilherme Gomes Ferreira disse...

Muito bom! hahahahahaha

No próximo desafio, fale sobre amor, não tem coisa melhor! hehehe

abração!

Silêncio de Chumbo disse...

Opa! qual o meu premio!
mto bom teu blog! parabens!

e como hj, dia 17 de abril é seu aniversário... feliz aniversário... tudo de bom pra vc! =)

e o tema q irei sugerir é: Iguais mas Diferentes... =P

bjoo

Gabriela Martinez disse...

Esse desafio eh legal!
Parabéns!

Anônimo disse...

só passando pra avisar q to sem internet

http://nadafaz.blogspot.com/

não sei qndo volto

bonito texto, mas não terei tempo pra ler, lan house é foda