Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Cueca colorida


Esse é o relato de um fato pitoresco que realmente ocorreu. Prá preservar os envolvidos, mudei o nome de todos.


Quando soube que eu iria me atrasar pro nosso encontro, Eveline resolveu dar uma volta pelo shopping, indo parar numa loja de departamentos.

Começou olhando a seção feminina, passou pelos acessórios, resolveu ir à seção de calçados... Quando viu, já estava na seção masculina. Mais especificamente entre as bermudas esportivas. E foi inevitável pensar em Jaílson.

Já há um mês que Eveline vinha me falando desse tal cara. Ele pegava o mesmo ônibus que transporta os professores para as escolas da zona rural. Segundo ela, o rapaz era “muito”: muito lindo, muito cheiroso, muito inteligente, muito legal, muito educado, muito estiloso e “muito” tantas outras coisas que só faziam aumentar o interesse de minha amiga pelo rapaz. Inclusive, ele era “muito” reservado sobre a vida (amorosa) dele. Não comentava de namoradas e nem nada do gênero. E, Eveline morria de vergonha de, mesmo informalmente, perguntar.

Num impulso, pegou o celular.

- Alô.

- É Jaílson?

- Sim.

- É Eveline. Tudo bem?

- Beleza! O que você manda, querida?

- É que eu estava aqui pensando em você e como estou na seção masculina de uma loja, gostaria de saber o que posso te dar de presente.

- Um presente?

-Ah, e também porque essa semana foi o dia dos professores, não foi?

- É! É sim! hehehehe

- Então! O que você quer que ganhar?

- Uma cueca. – e começou a rir

- Uma cueca?

- É! Uma cueca colorida.- ainda dando risada.

- Huuuum! Deixa eu ver que tô até perto de onde tão as cuecas... Deixa eu ver... Aqui tem uma cor de abóbora.

- Tem cor de abóbora? Mas é só cor de abóbora ou tem mais cores nela?

- Bem... tem a barra do elástico preta, mas de resto é cor de abóbora.

-Ah! É que eu gosto de cueca muito mais colorida. – segundo Eve, ai que ele quase explodiu na risada

- Ah! Mais colorida!

- Hum-rum. Muito mais colorida.

- Tá bom! Vou procurar uma cueca bem colorida prá te dar, então.

- Certo. Cheiro, querida!

- Um beijo.


Uma cueca bem colorida? Não bastava ser colorida, tinha que ser “muito mais colorida”. Oh, oh!

Eu achei muito estranho quando ela me contou. Ele podia ter pedido uma camisa, uma bermuda, ou até nada. Mas ele pediu cueca, o que seria bom! Mas a cueca teria que ser colorida, o que eu suspeitava que não era tão bom assim.

Das duas, uma: Jaílson era gay ou não queria nada com Eveline. Porém minha amiga tava no céu, achando que o gato já tava na dela. E eu achando essa história muito, mas muito estranha.

- Agora presente prá mim, neca, né? Eu também sou professora, sabia? – fiz troça.

- Essa é boa, Van! Você é professora, é? Quer presente? – ao meu aceno de afirmativo- Então eu te pago um chope e você também me paga um, já que eu também sou professora.

- Eu preferia uma calcinha colorida! – disse, já entre risadas.

O papo parecia que tinha morrido no meio de tantos outros que tínhamos prá colocar em dia, entre chopes e batatas fritas. Até que Eveline, como quem não quer nada, me chamou prá gente “andar um pouquinho” e enquanto falávamos da novela das oito, ela foi me conduzindo a outra loja de departamentos. E foi dito e certo: lá estava ela olhando de novo as cuecas.

- Me ajuda a escolher!

- Você realmente vai dar a tal cueca? – me surpreendi.

- Eu prometi e vou dar. Além do mais, quero ver no que isso vai dar! – falou com uma voz cheia de segundas, terceiras e quartas intenções.

- Ou se você vai conseguir dar. Mulher, mulher...

- Eu posso pecar por várias coisas, mas não por não tentar, né? Vamos, me ajuda a procurar!

Eu comecei a rir. Ela tinha razão!

Descobri então o praticamente monocromático mundo das cuecas. O fenômeno que já havia percebido nas cores dos carros, se repetia ali: de início só vi cuecas brancas, pretas e cinzas. Procurando com atenção vi um conjunto do tipo: “leve 3, pague 2” que trazia invariavelmente as cores: preta, branca e a terceira poderia ser vermelha, bege ou cinza. Mas eram do tipo “sunga” e nada a ver, né?


E o pior era a vontade de falar prá ela que suspeitava que o cara não tinha exatamente um gosto excêntrico prá roupas íntimas. Ele era gay, mesmo. Estava parecendo um nó na garganta.

Acabei falando:

- Eve, já pensou que ele pode ter falado “cueca colorida” como uma forma de metáfora?

- Metáfora?

- É! Eu acho que ele quis te dizer que é..

- O que? Bicha? Vanessa! Muito me admira você! – me repreendeu.

- Ouxe, por que?

- Preconceituosa, desse jeito! Só por que ele é professor de crianças? Acha que por isso ele é gay?

-Não. Eu acho que ele pode ser gay, ou seja, é uma possibilidade. E é por causa do que ele te falou e não porque ele é professor. Ele te disse que quer uma cueca muito, muito, muito colorida. Você acha que ele tava falando de roupa íntima?

- E cueca é o que?

- Pode ser um homem, não pode não? E colorida pode significar um gay.

Eve nem respondeu nada. Apenas saiu andando. Ai, eu e minha boca grande! E se eu estivesse errada? Mas meu instinto falava que realmente o cara quis dar entende qual a orientação sexual dele.

Enquanto seguia Eveline pelo shopping, liguei para o Fabio. Afinal, dos meus amigos mais próximos, ele era o único que entende de “cuecas”. Quando percebeu com quem estava falando, Eveline parou e ficou ouvindo a conversa. Veredito: podia ser um gosto estranho prá roupas íntimas, mas ele também achou que o cara quis dizer que é gay.

-Mas mesmo assim, eu vou comprar aquela cueca abóbora da primeira loja, mesmo. Vou pagar prá ver!

Dessa vez, eu quem não falei nada.

Na semana seguinte, Jaílson sumiu do ônibus da prefeitura. Eveline, que tinha feito uma embalagem especial para a cueca, ficou com o coração partido. Finalmente teve coragem de perguntar e soube que ele havia mudado prá o ônibus que saia uma hora antes da rodoviária. Ou seja, eles nunca mais se encontraram e nem Eveline ligou mais.



Na vida real, nem sempre os mistérios são desvendados. Esse fato ocorreu em outubro de 2008 e até hoje me pergunto se afinal o cara é gay ou tem um gosto estranho prá cuecas. Só sei que até hoje Eveline tem a tal cueca numa embalagem de laços vermelhos.

E você? O que acha?

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Promessas para as férias.

"Nas férias eu irei ler esse livro.
............................ arrumar esse armário.
............................ começar a dieta.
............................ cortar o cabelo.
............................ procurar aquela foto.
............................ caminhar toda manhã.
............................ visitar ______.
............................ levar a sandália prá consertar.
............................ ligar prá _______.
............................ escrever no blog."

Ah! Quantas promessas para serem cumpridas nas férias! Mais, até, que pro ano novo.
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Tudo aquilo que protelei devido as inúmeras atividades de final de ano letivo, prá ficar com a consciência mais leve, prometi que faria nas férias.
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Aí, chegaram as férias!
E uma maresia (palavra mais bonita que preguiça) foi tomando conta de mim... e lá vou eu empurrando tudo prá... mais tarde.
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"Mais tarde eu irei..."
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A consciência anda pesada, mas ainda não foi maior que a vontade de passar o dia todo só na base de cama-tv-geladeira-cama.
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Pelo menos, já escrevi aqui no blog, né? UFA!
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