Desde 2006 servindo algumas lasanhas e muitas abobrinhas.

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segunda-feira, 30 de abril de 2007

Amor, I love you!

Amor é fogo que arde sem se ver
(Luís Vaz de Camões)

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer ;
É um andar solitário entre a gente ;
É nunca contentar-se de contente ;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade ;
É servir a quem vence, o vencedor ;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor ?

Não se pode falar de amor sem clichê. E um dos clichês mais lindos que há sobre o amor é esse soneto de Camões, que muitos conhecem por causa da música “Monte Castelo” da Legião Urbana.
Quando li que o tema que Gui me mandou foi sobre o amor, logo quis atrelá-lo ao tema amor à distancia. Mas não! Preferi depois falar simplesmente sobre amor! Não como se fosse um manual ou algo do gênero. Apenas pensamentos soltos...
Mas quem quiser saber conceito de amor, é só recorrer à querida Wikipedia
, onde fala de vários tipos de amor.
Não deve ser à toa que amor rima dor. Pelo menos na Língua Portuguesa. Nesse ponto, o idioma foi certíssimo. Uma vez ouvi que paixão é um incêndio e o amor é uma fogueirinha. Achei engraçado, mas errôneo. Naquela época eu confundia muito esses dois sentimentos. Ao contrário da paixão, amar é aceitar a pessoa, inclusive em seus defeitos. Pelo menos é assim que eu penso. E não estou apenas falando de amor no sentido romântico/casal.
Essa deve ser a base do tal amor maternal/filial. Independente do que aconteça, em geral, pais e filhos podem até se afastar mais para deixar de se amar é muito difícil! Também em relação a amizade, o amor fraterno se dá quando você mesmo conhecendo os defeitos da pessoa, a “adota” pra sua vida. Eu confesso que as vezes eu sou difícil de conviver e tenho amigas que também não são exatamente as pessoas mais fecais do mundo. Mas eu sei que elas sempre estão na minha vida e na da delas, mesmo que passemos um tempo sem se ver. Hoje, minha sorte do dia no Orkut era:”Seus amigos só pedem um minuto do seu tempo, e não seu dinheiro”. Ou seja, amizade deve ser desinteressada, é uma forma de amor!
“Ame uns aos outros, assim como eu os amei” Está lá na Bíblia! Jesus que mandou! O amor é base de todas as religiões. E quase todos Têm uma religião, crença ou foi criado numa sociedade com algum tipo de influência religiosa. Então, o que está errado? Mas como também já li: amar a humanidade é fácil, difícil é amar o próximo. Principalmente quando o próximo não se parece ser do “nosso grupo”. Vide tantas guerras e desentendimentos. Não que todos têm que agora sair beijando todos que vêem na rua! Ia ser no mínimo a proliferação da herpes labial... Mas tratar as pessoas com respeito e tentar compreender os pontos de vistas alheios, já seria um início!
E o que seriam das artes sem o tema “amor”, hein? Músicas, filmes, novelas, livros, quadros (etc) em que personagens lutam e sofrem por causa do amor. Com certeza essas artes existiriam, mas não teriam tanta graça e charme! E não fariam os artistas tão conhecidos e ricos.
Um monumento que tenho a maior vontade de conhecer é o Taj Mahal, na Índia. É considerada a maior prova de amor do mundo! Constitui-se num mausoléu feito de mármore branco que levou 22 anos pra ser construído. Mais informações, Wikipedia
. Por isso, o Taj Mahal hoje enfeita o Lasanha.
Eu tava tentando fugir, mas sim, vou falar de amor romântico. E pra isso serei muito pessoal! Por isso leiam e depois façam de conta que sabem de nada, certo?
Certa feita eu ouvi numa aula de literatura uma poesia em que o autor dizia mais ou menos que havia beijado várias mulheres e muitas das quais havia esquecido o nome e a fisionomia. Mas justa aquela que ele nunca havia beijado foi a que nunca se esqueceu. Eu devia ter decorado pelo menos quem havia sido o autor, mas não! Quem tiver favor me informar! E é mais ou menos isso! Há uma pessoa que nunca beijei, com quem perdi em parte o contato, mas que é a razão de meu afeto. É uma pessoa normal com defeitos e qualidades. Quem o ver na rua, talvez nem gaste mais de um segundo olhando-o. Mas eu não o esqueço, eu me preocupo, torço por ele e perco o ar e o chão cada vez que alguém se refere a ele. Eu começo a achar que devo amá-lo.
Vocês devem pensar, então por que a boba aí não corre atrás? Porque a boba aqui já correu muito. E infelizmente ele em vez de correr em minha direção, correu em direção oposta, pra quase destruição de minha auto-estima na época... Talvez um dia, quem sabe? Por enquanto, vou beijando e me esquecendo de nomes e fisionomias mesmo! E de resto, tenho mais nada a falar sobre o amor! Por enquanto...

“Iaiá, se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade. Pois é!” (Beijos pra a Iaiá Gabie que não fugiu da raia e escreveu em seu último post sobre o arrocha, tema que eu sugeri.)

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Hermaníaca em recesso.



Li oito_linhas e meu chão sumiu!
Assim resumo o que aconteceu comigo nessa segunda-feira. Após ler o comunicado oficial que Los Hermanos entraria em recesso por tempo indeterminado. Recesso esse com gosto de "nunca mais".
Justo quando aguardávamos o lançamento do novo cd. Planos de quando tivesse os próximos shows em Salvador, especulações de como seriam as músicas, a ansiedade pelo novo cd. E, de repente, recesso...
Recesso com gosto de "nunca mais".
Fiquei atordoada, minha garganta travou, meu coração doeu e eu não era a única!
Amigas queridas, que de forma direta havia conhecido por causa da banda, também atordoadas pelo Orkut , msn e telefone. Mensagens de incredulidade, um desejo imenso que fosse apenas um 1º de abril atrasado...
O que aconteceu? Não saia da minha cabeça. Prá completar o anúncio que antes do recesso a banda faria duas únicas apresentações no Rio e a decisão "Eu vou! Eu tenho que ir!" Contra todas as dificuldades, os gastos extraordinários pra o orçamento de uma professora de séries iniciais apenas por causa de um ou dois shows... Mas meu coração gritava: "Eu tenho que ir!" Não pensava como, mas eu tinha ir! E incrivelmente parecia muito fácil de se fazer!
'Vanessa Lee arrasada com o tal "recesso" ' passou a ser meu nome no orkut. E-mail pra o produtor da banda clamando por show em Salvador. Esvaziei meu album orkústico pra pôr uma foto da banda e o print do anúncio do recesso. Não foi uma noite fácil de se dormir!
Sem querer contar uma história longa, devido a banda saí de uma vida medíocre. Isso porque além das letras me mostrarem que eu não era a única a me senti "daquela forma", conheci através da comunidade da banda daqui de Salvador pessoas ótimas que me arrancaram de minha solidão e abandono imposto por dois anos de pós graduação àos fins-de semana, que fez minhas amigas habituais esquecerem de me chamar pra sair. E com essa galera da comunidade LH-SSA recomecei a ir pra shows, fiz viagens e passei momentos maravilhosos!
Por isso estava triste, triste quando acordei na terça. Acho que o sofrimento era também porque o icone de tantos momentos bons estava acabando! Além da banda realmente ser minha conselheira às vezes! hihihi Quem não é fã, acha bobagem, não entende! Mas realmente a banda tem umas músicas que são pra extremamente tocantes. Além disso, o show têm geralmente uma vibe excelente! E por isso queria ir aos shows no Rio! Nos 2! Não sabia como, mas eu queria! Cheguei mal-humorada na escola que trabalho, vestindo uma camisa da banda.
Até que... até que entrei na sala-de-aula e as crianças me tiraram um pouco do transe dramático que estava. Elas ali sim eram reais! Eram a minha vida! Já a banda era meio um sonho...
Do drama fui caindo na real! E se fosse só um descanso? E mesmo que fosse o fim, será que seria bom eu me desgastar emocional-financeiramente desse jeito? Eles mereciam? Eu merecia isso? Me questionando acordei quarta. E um novo projeto, completamente louco e estimulante se mostrou pra mim! E eu o agarrei! (Dando certo, conto aqui!)
Decidi: Não vou ao Rio coisíssima nenhuma!!!
Só que da caída na real, começou a me dar raiva da banda! hehehehe "E vão dizer que o que eles querem é férias? Aaaaaaah, tá! E se querem férias, descanso, então pq marcar os tais shows em junho? Começa logo! Esses shows são de despedida, isso sim!Que atividade acumulada por dez anos eles resolveram se dedicar? Por acaso seria terminar a faculdade que eles (exceto Medina, que se formou) abandonaram por causa do sucesso da banda. Pode ser que não houveram desentendimentos que abalassem a amizade e o tal jogo de truco (que desculpa esfarrapada), mas houveram sim desentendimentos, pq senão eles não citariam isso! Eu queria que eles assumissem logo que é fim! Seria mais justo com seus fãs! " Questionei no orkut.
E com um pouco dessa vibe ainda estou! Los Hermanos é a minha banda do core! Mas não é tudo! Eu entendo que eles são humanos, precisam se dedicar à seus projetos e vontades, mas eles já estão pensando nisso eles mesmo! Eu tenho é que ver como eu tô me sentindo em relação à isso. É meio infantil/ meio adolescente, mas estou meio com raiva, numa atitude meio de desdém como a raposa na fábula "A_raposa_e_as_uvas".
A banda entrou em recesso? Eu também entro em recesso como fã! E ficamos combinados assim, eu e a banda! Todo mundo em recesso! Oba!
Uma música da banda bem reflete o que ando sentindo agora em relação a banda é:

Descoberta

Sai, que já não te quero mais/Sai, porque hoje eu descobri/Que posso viver sem ti/Que posso viver em paz/Muito bem sem teu amor/Sai, porque agora eu sou/Um homem bem mais feliz/Um homem bem mais feliz

Vai,que hoje a lágrima não cai/Sei agora o mal que faz/Dar amor a quem não ama/Dar amor a quem só traz/Ódio e desilusão/Que maltrata o coração/Precisando de carinho/Precisando de carinho

Minha amada/Não consigo mais viver ao lado teu/Não consigo mais te dar o meu amor/Hoje vivo muito bem sem tua boca/E sozinho não conheço mais a dor(2x)

O teclado agora desconfigurou! Foi minha mágoa! hahahaha Próximo post voltarei a tratar sobre os temas propostos no desafio.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Loucura, loucura, loucura!

Balada_do_Louco
(Composição: Arnaldo Baptista / Rita Lee)
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz

Neste 50º post do "Lasanha deAbobrinha" começarei a tratar sobre os assuntos sugeridos pelos leitores. O primeiro será "loucura".

Louco de amor, louco de fome, louco de tanto trabalhar, loucos por carro, loucos por futebol... Tá todo mundo louco! Mas o que é a loucura? Segundo a Wikipédia: "A loucura ou insânia é uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados "anormais" pela sociedade. É resultado de doença mental, quando não é classificada como a própria doença. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psiquiatria médica." Ou seja, só um profissional especializado pode diagnosticar uma doença mental.

Me lembro claramente de que quando era pequena, minha avó me ameaçava dizendo que o "maluco" ia me pegar caso não me comportasse quando saia com ela. E me parecia que em cada canto de Salvador havia um "maluco" pra me pegar. Eu sentia um medo! Só sei que sempre me comportei muito bem... Hoje percebo que muitos daqueles malucos eram na verdade alcoolátras ou mendigos. Mas eram todas pessoas que eu não conhecia.

Até que quando eu tinha uns 9 anos vi a empregada doméstica de um apartamento do mesmo conjunto habitacional que eu morava, pessoa que conhecia pois trabalha num prédio próximo ao que eu morava, sendo dando um surto! Ela gritava e tentava bater em todos, até que foi dominada por três homens. Lembro de uma pessoa perto de mim, enquanto assistíamos ao acontecido, falar à outra que já haviam chamado o carro pra levá-la ao manicômio. Eu não sei se foi a primeira vez que ouvi essa palavra, mas posteriormente toda vez que ouvi/li "manicômio" me lembro desse evento.

Claro que nem todos têm esses surtos violentos! No bairro que moro há anos via um senhor com cerca de cinquenta anos que arrastando um saco enorme, anotava em vários papéis as placas dos carros que via. Uma vez, testemunhei ele anotando placa por placa de todos os carros que estavam defronte um condomínio, cerca de 12 automóveis. A história que soube é que após muito esforço aquele homem havia conseguido comprar um carro... que depois foi roubado. Então, ele passou a procurar seu carro, comparando as placas. Assim como há outros(as). Acredito que cada um conheça uma pessoa que sofre de problemas mentais e circula pelas ruas de sua cidade.

Outros viram verdadeiras personalidades. No centro de Salvador, há e por muitos anos, perambulou uma figura conhecida como "A Mulher de Roxo". Como o apelido já entrega, ela se vestia completamente de roxo, da cabeça aos pés. Até um filme foi feito com as várias versões para aquela senhora ter chegado àquele estágio, desde que havia sido uma noiva largada no altar até que era a cafetina de um bordel que incendiou. A verdade, nunca se soube!

Cortar um pedaço da própria orelha esquerda e oferecer o pedaço cortado à uma prostituta, embrulhado em um pedaço de jornal pode ser considerado um sinal de loucura? Pelo menos é um comportamento anormal... Pois o autor desse quadro que hoje ilustra meu blog fez isso. Como muitos devem saber, esse homem foi Van Gogh. Esse quadro é um auto-retrato, feito depois que o artista cortou a sua orelha. O pintor apesar de ter enfrentado algumas problemas mentais, estes não impediram sua produção artística. Quem quiser ler um pouco sobre Van Gogh, já sabe! Clique aqui.

A loucura (alheia, óbvio!)possui um carater fascinante que foi retratado nas diversas artes. Quem não leu "O_Alienista" de Machado de Assis deixou de ler um conto muito divertido e inteligente sobre o tema. (Na verdade, toda a obra do autor é imperdível!) Quem quiser conferir uma mostra de quadros influenciados por esse tema, visite este_site. Eu achei bem interessante!

Na verdade a sugestão para o post era que fosse uma poesia sobre a loucura. Mas infelizmente eu sou sei fazer poesia do tipo que rima "chão" com "mão", "panela" com "janela". De início, não estava muito animada em fazer poesia, porque além de ser uma poetisa sem-talento, também sou exigente! A poesia tem que refletir meu estado de espírito e eu vivo na ilusão que sou perfeitamente normal, inclusive a nível mental. Porém, como também não gostaria de deixar esse desafio pela metade, aí vai:

Batatinha quando nasce não se esparrama pelo chão.

E quem foi quem inventou essa história da menina com a mão no coração?

Me falaram que a batata é uma raiz e antes de dormir a menina assoa o nariz.

Isso é uma poesia encomendada sobre a loucura e quem duvidar que vá comer farinha pura!

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Temas sugeridos pra futuros posts.

Bem, aqui estou eu cumprindo com minha parte do desafio de Wagner, do Blá-Bláismo ... Acontece que há um tempo atrás ele lançou um desafio em que deveriam enviar temas pra ele. Confesso que quando li, eu nem ia mandar... Era madrugada e eu estava com sono... Mas acontece que ele me convocou nominalmente!!! Na falta de criatividade, sugerir "lasanha". (Pq será?)
O tal desafio tinha uma segunda parte, em que quando ele tratasse do tema sugerido, a pessoa que enviou o tema deveria fazer o mesmo desafio em seu próprio blog. Pois dia 13/04 ele abordou o tema "lasanha", junto com bolo. Cumprindo minha parte, solicitei que me enviassem temas até hoje, dia do aniversário de monteiro Lobato.
Os temas e seus autores (com devidos links) são:
pk_ninguém → poesia sobre a loucura (ai, tem que ser uma poesia, mesmo?)
*lana* → o livro "A chave do tamanho" de Monteiro Lobato (nunca li, mas vamos lá!)
wagner → amor à distância (nem precisou dizer que ele queria um conto)
a.j.martins → ferrovia (hum! Interessante!)
rodrigo → Bunda-molismo brasileiro (conversa muito engraçada à respeito via msn)
gui → amor (mesmo tema praticamente de Wagner)
silêncio_de_chumbo → Iguais mas diferentes (Tbm mto interessante!)

Os outros comentários não tinham temas sugeridos. Prometo que cumprirei e tratarei de todos esses assunto no menos tempo possível!

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O conto do desafio -> Roda-gigante

(Esse post é de 16/04/07. Dia 13/04/07 foi o dia que comecei a escrevê-lo!)
Há alguns posts atrás pedir que me mandassem palavras pra que eu inserisse num conto que eu viria a escrever. Pois bem, ai está o conto! Realmente as palavras propostas que me levaram a história. Espero que gostem!
....................
RODA-GIGANTE
Saiu andando pela rua que foi testemunha de sua infância e adolescência, tendo apenas o som do seu salto de seu sapato de couro de avestruz batendo no pavimento como companhia. Quando passava pelas casas, via luz acesa e sons de conversas ou da televisão. Reconheceu a voz de uma atriz famosa e percebeu que a novela das nove já havia começado.
Ainda não se sentia pronta pra regressar para casa. Sentia que antes necessitava de fazer uma espécie de higiene mental do jantar que havia acabado de participar. Seguiu até a Praça Belina. A medida que chegava, o movimento de pessoas aumentava. Se percebia que as jovens estavam vestindo sua melhor roupa, cabelos escovados ou com creme, saltos altos. Os rapazes também andavam em grupos, tênis novos. Além disso, senhoras sentadas em cadeiras do lado de fora de suas casas ou de amigas, observava o movimento. Haviam lhe falado que mais tarde haveria o show de uma banda de forró que estava fazendo algum sucesso, na Praça 8 de Março. Era festa da Santa Padroeira da cidade. Uma festa religiosa que havia se tornado profana, como todas as outras.
De longe se ouvia os gritos e risadas das crianças vindo do parque montado pra a festa. Barco viking, carrinho de bate-bate, tiro ao alvo era alguns dos brinquedos que estavam montados. Mas o brinquedo que lhe chamou atenção foi a roda-gigante montada no outro lado da praça. Lembrou-se de quando pela primeira vez esteve numa roda-gigante, naquela mesma praça, muitas festas da Padroeira atras. Não queria ficar andando a esmo, principalmente porque seu espírito não era exatamente de festa. Se dirigiu até a pequena construção de tábuas, que fazia as vezes de caixa e comprou 1 ingresso, dirigindo-se então a fila da roda-gigante.
Enquanto aguardava sua vez, percebeu que algumas pessoas a olhavam. Talvez fosse por causa da sua roupa: um tailer preto com sapatos altíssimos de couro de avestruz. Talvez porque vagamente a reconheciam.
Fechou os olhos quando o brinquedo começou a se mover e por um décimo de segundo sentiu-se novamente com seis anos. Abriu os olhos e a cidade se distaciava, ao mesmo tempo que se tornava bela. Do alto se via toda a cidade iluminada. Mas do alto é como se ela não estivesse lá e aquele local era apenas mais uma lembrança.
Pensou se engraçado como guardamos de forma meio dourada as boas lembranças da infância, como se nunca tivesse caido e ralado os joelhos. Não eram lembranças contínuas, eram flashs: a avó com um véu de renda rezando na igreja, os canários de tio Pacheco fazendo uma alegre algazarra no grande viveiro que ocupava mais da metade do quintal, o cheiro e o barulho da cebola fritando quando Dorinha fazia o detestado fígado acebolado, a farda da escola com a gola engomada com capricho pela mãe, o tique do avô de cofiar a farta barba nas mais diversas situações, o biscoito de goma feito pela avó com a parte de baixo ainda com resquícios de farinha de trigo, brincadeira na rua, o primeiro namoradinho e as poesias que fazia pensando nele...
Tudo aquilo passado naquela cidade em que a rodoviária só funcionava entre às 6 h e às 22 h.
Porém chegou o dia em que abriu as asas e foi fazer faculdade na capital, há 200 km. E esse dia aconteceu há 12 anos atrás. Os pais esperavam que a filha fizesse medicina e voltasse a sua cidade natal pra clinicar. Ela desistiu de medicina quando se deparou com a primeira aula de anatomia e acabou se formando em direito, não voltando mais a morar naquela pequena cidade.
Os pais nunca aceitaram... No fundo esperavam que essa história de faculdade fosse apenas um capricho e que logo a filha retornaria pra se casar e morar na casa que o pai planejava construir em cima da sua, ficando ali à dispor pra cuidar deles na velhice. Quando ela finalmente confirmou que não pretendia voltar àquela cidade, pois morar na capital seria melhor pra sua carreira, foi chamda pelo pai de narcisista.
Prá completar, ela havia se casado com um saxofonista que a conta bancária era inversamente proporcional ao talento, e olha que ele era considerado um dos melhores do estado... Ela não se incomodava em pagar todas as despesas de casa, pois o que importava era o grande companheiro atencioso, culto e bem-humorado que ele era. Principalmente era um pai excepicional, que conseguia suprir o tempo que muitas vezes ela não conseguia ter com sua filha, abarrotada de processos pra estudar. Mas nada disso importava aos pais dela, que o chamavam de "cafetão", o que a fazia pensar que a chamavam de prostituta.
Ela resentia de seu relacionameto com seus pais se dar de forma tão fria. Ela entendia que a melhor forma que teria pra cuidar deles quando estes necessitassem era lutando pra ter recursos pra isso, pra poder contratar ajuda especializada. Não que iria envia-lós a um asilo, pelo contrário, gostaria que eles fossem morar na capital numa casa junto a dela. Em sua mesa de trabalho, entre papéis, canetas, grapeador e porta-trecos, havia um porta-retrato com uma foto de quando tinha dez anos numa praia com os pais. As vezes olhava e seu coração doia de saudade.
Porém quando ia visitar os pais, como naquele dia, o clima não era ameno. Naquele jantar, sob o lombo assado que perfumava a sala, críticas ao marido que há muito havia desistido de ir ver os sogros, a filha que ela preferia deixar em casa com o pai pra não presenciar os avós criticando o pai e notícias enfeitadas das amigas de infância que haviam ficado na cidade, todas muito bem-casadas com "homens com futuro", cuidando dos filhos perto da família.
Depois dessas ocasiões, ela realmente precisava espairecer, pra não levar pra estrada em direção a sua casa a mágoa de os pais não entenderem as suas razões, apesar dela entender as deles. Porém, ela avaliava que seria infeliz se vivesse como eles desejam ao invés de fazer suas próprias escolhas. O preço que ela pagava por isso era dolorido, mas necessário, pois não podia deixar de vê-los.
E nesses pensamentos e lembranças se deixava levar pela roda-gigante, sentindo o vento frio no rosto e a vendo a cidade toda iluminada.
.......................
Prá quem leu o conto, um prêmio!
Bem, eu enviei um tema à Wagner e agora tenho que fazer o mesmo desafio aqui... Sim, outro! Pois bem: Peço que àqueles que comentem aqui, sugiram um tema que poderei tratar sob forma de conto, poesia, ensaio, sei lá (decido conforme a inspiração e o tema)...
Prazo: 18 de abril, dia do aniversário de Monteiro Lobato.
Aaaaaaah! Por falar em aniversário, dia 17 de abril é o meu! Isto mesmo, estou fazendo 27 anos!!! Quer idade mais ROCK???

quinta-feira, 12 de abril de 2007

As palavras sugeridas para o desafio.


"Era uma vez uma professora sino-italiana-baiana que um belo dia resolveu propor um desafio no seu blog, em que as pessoas deveriam lhe enviar palavras que ela deveria incluir em um conto..." :)


Pois bem! Hoje, dia 12/04 acabou o prazo pra o envio de palavras. Primeiramente, agradeço enormemente quem participou enviando suas palavrinhas.

As pessoas que colaboraram (com respectivo link pra o blog, quando disponível. é só clicar no nome da pessoa) e as palavras foram:

rob_gordon -> farinha


caioarroyo -> narcisista

Ita -> poesia

n@t -> grampiador (deve ser grampeador)

elzinha -> canário

a.j.martins -> cafetão

anninha -> roda-gigante

wagner -> lombo

tiago_medina -> cofiar

gui -> avestruz

O Daniel_Pearl em vez de sugerir uma palavra, colou um post na parte dos comentários.


Bem, agora é pôr mãos as obras!!!

terça-feira, 10 de abril de 2007

Eu convoco vocês pro meu desafio!

Bem, esse mês faço aniversário e resolvi colocar um desafio aqui no blog.
Tá bom! Eu confesso que essa história de desafio me veio a mente devido aos que Wagner pôs em seu Blá-Blaismo. Aproveito pra pedir ao moçoilo que explique melhor a segunda parte do desafio dele...
Bem, mas vamos falar do meu desafio! hehehe
Cada pessoa que comentar esse post até o dia 12/04/07 deverá sugerir uma palavra que deverei incluir num próximo conto.
Vou logo informando que não crio um conto tão rápido assim, como alguns podem esperar. Pode levar uns dias, pois de acordo com as palavras sugeridas irei elaborar a ação. Mas eu vou fazer! Não se preocupem!
Já antevejo a diversão que vai ser escrever esse conto!!!

Ah! Como já tenho um quase pronto, talvez poste antes desse conto do desafio, mas ratifico: Podem ficar despreocupados que mais cedo ou mais tarde (ai, ai, ai!) o tal conto irá sair!

segunda-feira, 2 de abril de 2007

A (não) formatura de Mércia.

- Alô!
- Alô! É a Helenice?
- É sim.
- Aqui é a Dolores! Nunca mais ligou, hein? Tô ligando pra saber de você, das novidades, da Mércia.
- Tá tudo indo...
- Indo na Graça de Deus, não é? Então, me conte as novidades!
- Sabe quem se forma quinta-feira que vem?
- Quem?
- Milena, a menina do primeiro andar. Não sei se você lembra dela, Dolores. Mas ela foi criada junto com Mércia, mesma idade. Odontologia, na Federal. Imagina no orgulho da mãe, 23 anos e formada em Dentista! Deve ser tão bom ter uma filha tão aplicada e inteligente assim!
- Não fale assim, Helenice! Você tem Mércia e ela também é muito inteligente.
-Mércia é inteligente quando ela quer! Eu tenho minha consciência tranquila que dei o estudo melhor que pude à ela. Muito superior ao meu! Porque você se lembra que em nossa época não tinha essa história de colégio particular, curso de inglês, de computação como essa garotada. Você tinha que se contentar com escola pública e pronto!
- Mas temos que lembrar que na nossa época a escola pública que era boa! Mas aqueles foram outros tempos, Helenice.
- Pois é! Mas o fato é que eu me matei de trabalhar pra sustentar esses estudos todos. Você faz idéia de quanto eu gastava com material e livro? E toda hora um trabalho ai dali cartolina, xerox, pesquisa, pedir a vizinha pra usar um pouco o computador...
- Mas é a nossa obrigação de mãe!
- Não! Obrigação era educar, dar comida e pôr na escola, já servia a municipal mesmo. Eu fiz mais que a minha obrigação! E prá quê? Prá quê tanto dinheiro gasto? Prá Mércia não passar em nenhuma universidade pública que é a boa! Nem a Federal, nem a Estadual. Nada! E olhe que na verdade eu fazia questão de no mínimo uma praca de "doutora". Já que eu não pude me formar médica, Mércia tinha que me dar esse gosto de se formar ela!
- A menina tem que estudar o que ela quer seguir!
-E o que ela quer seguir, Dolores? Por que eu já não sei mais! Já tentou Jornalismo, Biologia, História, Letras e nada! Já até abri mão de Medicina! Por tanto que ela faça uma pública, pode ser a Federal ou a Estadual mesmo. Eu já avisei: a obrigação dela é passar numa pública por que condições, boas escolas eu dei! Se ela quiser cursar numa particular ela que vá trabalhar e pagar com o salário dela!
- Mas ela não trabalha, Helenice?
- É, trabalha! É balconista de uma farmácia aqui no bairro. Vê se eu me esforcei tanto pra ela acabar virando balconista de farmácia? Mas se é a vida que ela quer... Uma moça que teve as oportunidades da vida, vai acabar assim, num balcão de farmácia!
- Não fale assim de sua filha, Helenice! Ela vai arranjar um emprego melhor! É que hoje em dia não é fácil encontrar emprego assim, como quando nós éramos mocinhas.
- E ainda mais sem um diploma, né Dolores?
- Minha irmã, dê tempo ao tempo! Quem sabe um dia em breve Mércia apruma o caminho da vida dela. Ela é jovem, tem só 23 anos, muita coisa ainda pela frente. E você não pode ficar nesse negativismo em relação a sua filha, mulher!
- Eu não sou negativista. Muito pelo contrário, eu sempre tive muita fé em Mércia e olha só o resultado de tanta fé, de tanto investimento! Eu sou é realista!
- Você tá assim com um tiquinho de tristeza porque a menina ai do seu prédio tá se formando e a sua menina não. Mas você tem que confiar que logo será sua oportunidade!
- Assim espero! Bem, Dolores. Eu preciso agora dar uma passada na costureira porque encomendei um vestido pra formatura. Vou pelo menos aproveitar a formatura das filhas dos outros.
- Ai, ai, ai... Vá, então! Mas não fique assim que não é bom nem pra você, nem pra sua filha!
- Mércia tá nem aí! Tchau!
- Tchau! Se cuide!